segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

É chato ter que dar título pra todos os meus textos

Tentativa 1:
-Olá
-Oi
-Tudo bem?
-Você está mesmo interessado?
-Na verdade não
-Então por que perguntou?
-Porque achei que serviria pra puxar assunto
-E por que você quer achar assunto?
-Porque estava me sentindo solitário, e esperei que você também estivesse
-Você conversa com outras pessoas quando está solitário?
-Sim. Você não?
-Acho que não
-Por que não?
-Eu não gosto de gente, em geral.

Tentativa 2:
Um dia nasceu uma mulher que não se sentia exatamente uma mulher, porque ela era hermafrodita.

...

Tentativa 3:
-Vai, me desenha como uma de suas francesas
*levanto e caminho pra fora do quarto*
-Não, espera! Era brincadeira!

Tentativa 4:
Então né, aquela menina de cabelos pretos era doida, doida. Mas ela tinha uns vestidos legais, até que morreu. E acabaram-se os vestidos.

Boa noite.

Idade

Não devo ter a idade que meu corpo apresenta, pois não sinto mais as energias e o potencial de alguém novo e cheio de esperanças. Nenhuma das propostas que certamente parecem extremamente interessantes se feitas a qualquer outro alguém conseguem despertar em mim qualquer resquício de interesse. Nenhuma das promessas que eu um dia ouvi e acreditei ainda me atraem. A vida se tornou apenas aquela comida desagradável e sem tempero, que se come não porque sente-se algum prazer nisso, mas sim porque se está com fome e é necessário comer. Todas as minhas palavras se reduziram a uma tentativa de tornar complexa e indecifrável qualquer sentença, e mesmo que se olhe no dicionário e se perceba que as palavras podem querer dizer uma infinidade de coisas, para mim elas não são nada mais que palavras longas e não são capazes de expressar nada. Aprendi a desprezar todas as óbvias vantagens com as quais nasci, como se elas representassem um estorvo o qual eu estaria melhor sem. Passei a abraçar todos os meus infortúnios e rancores, pois eles fazem com que eu me sinta mais vivo do que jamais fui. E, principalmente, devo ser velho pois odeio os jovens ao redor de mim, tão cobertos de sonhos e resiliências infantis, de modo que relaciono-me com eles apenas esperando o dia em que terei o prazer de ver esses sonhos serem esmagados e estilhaçados. O dia em que verei esse sonho de liberdade ser sufocado e afogado para que, então, finalmente percebam que seres humanos não foram seres feitos para serem felizes.

domingo, 9 de dezembro de 2012

O escritor obliterou a distinção entre pessimismo e poesia

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Wrada

Vocês leitores, se é que existem, podem comentar nos textos, eu não vou achar ruim não, prometo.

domingo, 25 de novembro de 2012

Gosto tanto de escrever que sinto um aperto na alma por ter de resignar-me à infelicidade de não poder fazer disso o meu sustento.

Rainha de Copas

Era um dia frio e chuvoso de domingo, e nossos planos de ir à praia haviam sido arruinados pelo mau tempo. Não havia muito a se fazer a respeito, por isso ficamos em casa e nos decidimos por fazer um almoço mais ou menos especial. Estava jogando video game na sala quando me convidou para ajudá-la na cozinha, que é tanto um exercício de criatividade quanto disciplinar - o motivo, portanto, de ter sido chamado. Ela me ofereceu uma cerveja, para que tivéssemos nossas típicas conversas que alternam entre profundos assuntos filosóficos e um simples 'bate-papo jogado fora'. Começamos então a caminhar pelos labirintos que são as discussões sobre os significados filosóficos ocultos das histórias infantis e contos de fadas. Como não podia deixar de ser, devido ao nosso característico histórico familiar, nos detivemos em "Alice no País das Maravilhas". Conforme discutíamos sobre nossos motivos pessoais para achar essa história extremamente interessante e deliberávamos sobre os significados dos personagens e acontecimentos a partir do ponto de vista da pequena Alice, eventualmente chegamos ao ponto em que eu lhe falei sobre a relação existente entre a Rainha de Copas e a mãe da garota. Ela riu ao perceber que a relação fazia sentido, mas manteve-se quieta, obviamente compreendendo a semelhança que eu havia sutilmente deixado transparecer com o nosso relacionamento. Mal sabia que seu apelido já era "Rainha de Copas" há alguns meses, desde que eu o havia carinhosamente atribuído a ela. Chegamos então ao final do livro, e eu recitei-o para que ela se lembrasse, quando a irmã de Alice indaga o que aconteceria à menina ao crescer e se esquecer do sonho. Dotada de sua crítica fina e aguçada, ela imediatamente rebateu:
-Certamente se tornou uma Rainha de Copas.
Notando minha nítida surpresa, ela sorriu e prosseguiu:
-É, meu querido. Toda Rainha de Copas foi Alice um dia.
Senti meus olhos marejarem diante daquelas palavras, e fui abatido por uma súbita onde de empatia. Ela era um ser humano, afinal de contas. Como eu.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

As Neves do Kilimanjaro

Trabalho de filosofia pra relacionar As Neves do Kilimanjaro com Rousseau, Hobbes e o resto da matéria


As Neves do Kilimanjaro é um filme de 2011 dirigido por Robert Guédiguian que se passa em Marselha, na França, e conta a história de um casal, Michel e Marie-Claire, com firmes ideologias políticas de esquerda, que se vê obrigado a lidar com situações difíceis ao contribuir para a condenação de um jovem, Cristophe, que assaltou sua casa. O filme traz à todo momento importantes discussões de valor ético e moral ao problematizar diversas questões. Uma delas se refere à culpabilidade do jovem, uma vez que ele se viu forçado a atos extremos quando foi demitido do emprego e não teve mais condições de sustentar os dois irmãos menores, por quem era responsável. A partir disso, pode-se fazer um paralelo com o que afirmava Jean-Jacques Rousseau em sua filosofia: o homem é naturalmente bom, mas está sob jugo da vida em sociedade, que o predispõe à depravação. Para Rousseau, o meio de restaurar esta bondade é a eliminação das desigualdades sociais, responsáveis por privar o homem de seu exercício de liberdade. No entanto, o filme procede em mostrar que mesmo após quitar suas dívidas e superar o "sufoco", Cristophe se reúne com um parceiro para organizar um novo assalto. Essa cena transmite um conteúdo um tanto pessimista, mais característico do pensamento de outro filósofo, Thomas Hobbes, conhecido por sua frase "o homem é o lobo do homem", que define os seres humanos como naturalmente agressivos e eternamente em conflito um com o outro enquanto disputam posses, de modo que as leis serviriam para regular e impedir a natureza humana. Porém, Michel nunca chega a saber sobre a proposta do segundo assalto, e após tomar conhecimento da situação em que o jovem se encontrava, arrepende-se por tê-lo acusado e causado sua prisão.
Este arrependimento provém da ética, o conjunto de limites e princípios que regulam as ações individuais dos seres humanos. É este mesmo sentimento que vai levar Michel, no final do filme, a adotar os irmãos mais novos de Cristophe e levá-los para morar consigo. Dessa forma, o filme apresenta também outra questão importantíssima: em que grau a consciência ética individual afeta o meio coletivo? Em que medida se relacionam ética e política? Um indivíduo pode escolher alfabetizar-se por acreditar que é importante, mas isso tem um impacto no meio social na medida que, por exemplo, há um trabalhador alfabetizado a mais disponível no mercado de trabalho. Portanto, ética e política se interligam o tempo todo, já que não há indivíduo que viva completamente isolado, e todas as ações individuais são ao mesmo tempo influenciadas por e influenciam o meio ao redor. Os valores e crenças de Michel e Marie-Claire tem também significados políticos, na medida que envolvem a saúde física, mental, educação e formação de outros dois indivíduos.
Porém, resta no final a dúvida. A decisão do casal em adotar as crianças foi, como diz Rousseau, derivada de uma bondade nata, de uma consciência social? Ou será que se aproxima mais do argumento de Hobbes, em que as vontades e ações são resultado das paixões e desejos egoístas do homem, tornando a adoção um ato egoísta levado pelo desejo do casal de se engrandecer perante outros por sua benevolência, pelo desejo de sentir-se bem com eles mesmos?

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Untitled

Eu lia e relia as suas palavras, e a cada leitura meu coração palpitava mais rápido. Cada leitura era um novo teste de resistência para meus olhos, que acabaram por perderam a batalha e agora choram de forma tão desamparada e inconsolável. Eu nem sei o que dizer nesse momento. As minhas lágrimas estão borrando as minhas palavras, e por mais que eu tanto deseje, não consigo escrever nada decente. Jamais havia me sentido assim antes. Do fundo do meu coração que acreditei por tanto tempo ser frio e desprovido de qualquer empatia, você despertou coisas que eu havia há muito trancafiado e escondido nos recônditos mais profundos da minha alma. E agora estou aqui, confuso e sozinho, sem idéia alguma de como lidar com todos esses sentimentos que afloraram em mim. Pela primeira vez desde muito, muito tempo, eu estou verdadeiramente sem palavras. Nunca nos meus pesadelos mais sombrios isto havia acontecido. O único motivo pelo qual consegui escrever tudo isso foi que minhas lágrimas resolveram finalmente parar de cair, permitindo que eu pensasse e articulasse mais claramente. Isto apenas porque fechei a janela de suas palavras por enquanto como uma medida de precaução, pois no meio de minha angústia, temi sinceramente que meu corpo desidratasse. Acho que fechei apenas com a esperança de poder abrí-las de novo um dia, e sentir-me emocionado como há tanto tempo não ocorria. Levantei-me da cadeira e caminhei até o banheiro para me olhar no espelho. Me encarou de volta um rapaz de cabelo terrivelmente bagunçado, cujos olhos aflitos davam-lhe uma aparência nada atraente. No entanto, forcei ainda mais a vista, procurando desesperadamente em meu reflexo o que de tão bom você havia visto em mim. Rezei então para, o que quer que fosse, que você pelo amor de Deus não parasse de ver.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Dependência

No início, você tem medo. Fica inseguro se realmente deveria experimentar ou não. Aí as pessoas ao seu redor uma hora ou outra conseguem de alguma maneira mirabolante te convencer de que é muito bom e que você deveria tentar, e você acaba acreditando. Quando você prova pela primeira vez, a sensação que te dá é extremamente intensa. Você começa a suar, os seus batimentos cardíacos aceleram perigosamente, a sua pressão aumenta, você se sente eufórico, elétrico, como se fosse capaz de fazer qualquer coisa. Áreas do seu cérebro são ativadas sem que você tenha controle qualquer sobre isso, fazendo seu corpo reagir de maneiras diversas. Todos os dias começam a parecer que valem a pena, só pela simples oportunidade de conquistar aquela sensação de novo. Mas quando a onda inicial vai embora, você é tomado por uma torrente de sensações de angústia, cansaço, insônia e depressão. Na sua mente reina apenas um único pensamento compulsório: "Eu preciso disso de novo". Então você vai atrás da sua nova dose, e é sempre a mesma coisa. Você usa, fica nas nuvens e depois deprime. E você começa a acreditar que não há outra maneira de se sentir bem de novo. O seu comportamento fica cada vez mais auto-destrutivo, conforme você vai ficando mais resistente e precisando de doses cada vez maiores para causar os mesmos efeitos de antes. Afasta-se da família e dos amigos porque a sua nova obsessão é a única coisa que importa, considerando o resto como sendo superficial. Se você puder ter aquilo, apenas aquilo, a sua vida será completa, é o que você pensa. É aí que seu organismo começa a entrar em decadência numa espiral insana de procura desesperada daquilo que você acredita ser a única coisa capaz de lhe proporcionar uma miséria de sensação de bem-estar, mesmo que cada vez mais passageira. Quando você se dá por si, percebe finalmente que o vício já não possui o mesmo doce, ele sequer te faz se sentir melhor. Mas agora você já está sozinho e desamparado por ter achado que ele conseguiria satisfazer sua vida plenamente em todos os aspectos.
É... A cocaína e o amor são bem parecidos. Mas a cocaína pelo menos faz o favor de te matar -de verdade- no final das contas.

Tarde

Na sua vida, você pode morrer a qualquer momento, por qualquer motivo. O único problema, no meu caso, é que isso demora demais a acontecer.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Escolha sabiamente os seus modelos. Encontre as pessoas que tiveram a vida que você quer ter, descubra o que eles fizeram, e faça o mesmo. É esse o meu conselho.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

O monstro

Fuja desse monstro. À meia noite, ele levantou suas garras afiadas e elas brilharam à luz pálida do luar prateado. Eu corria, tentando desesperadamente despistá-lo entre os obstáculos que haviam se colocado entre nós, mas ele era obviamente mais rápido e mais forte, derrubando tudo em seu caminho com um poder assombroso. Eu já não conseguia ver o chão onde pisava, orientando-me apenas pela luz das estrelas no céu enquanto ouvia os galhos secos se quebrarem sob meus pés. Ele se aproximava ameaçadoramente. Já podia sentir o bater do seu coração junto ao meu corpo e o calor de sua respiração, conforme o cansaço ia tomando conta de meu organismo e as minhas pernas começavam a vacilar, fraquejando a cada passo que dava. Sabia que deveria fugir; fugir desse medo, dessa sensação que eu já conhecia, desse ser que insistia em se apoderar de mim com sua fome insaciável, seus desejos, seus instintos mais primitivos. Ele ia me devorar, lentamente, pedaço por pedaço, membro por membro, ia rir enquanto destruía meu corpo, se deliciar com o sabor do meu sangue. Não pude fugir. Ele me alcançou e, em um movimento, saltou sobre mim e me dominou por completo. Abriu a minha pele e, com a sua boca, rasgou as minhas entranhas, gargalhando com alegria maníaca enquanto caminhava satisfeito de volta para os confins de onde havia saído. O sangue pingava de sua língua, a minha carne ainda presa em seus dentes monstruosos, o meu gosto ainda fresco em sua boca. E ele exibiu com orgulho insano os restos de mim àqueles ao seu redor, como uma espécie de troféu, uma homenagem ao seu ego e símbolo de sua força. Fiquei então abandonado no meio da noite escura, sozinho, sujo, experimentando uma sensação de profundo vazio pela perda daquilo que havia dentro de mim. Sem coragem para ir até ele e pedir de volta, continuei ali sentado, sem o meu interior, esperando pelo dia em que ele se cansaria de mostrá-lo aos outros e viesse devolvê-lo a mim.

Repressão

Meu corpo e a minha mente inflamam com o ardor das palavras não-ditas, desesperadas pra encontrar um meio de ganhar voz e se manifestar. Mas o papel continua em branco.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Composition

Porque eu acabei gostando de como saiu essa composition sobre um ato de bondade hê

It was a hot February day and, as I walked down the stairs of my school, I could swear I saw the heat waves around me, warping and melting everything they touched. Although everyone everywhere I went was complaining about the heat, I must confess it was the last thing on my mind and the least of my worries as I gazed upon the white clouds drifting in the bright, blue sky. Classes had just re-started, and I already wished I could be far, far away from there.
In my holidays, I had met someone. All of a sudden, this certain someone became my most important person in the world. It was so clear that she was the only one for me. We were meant for each other. We both knew it, right away. I could still remember clearly all the afternoons we had spent together: the things we had found out in common, the kisses we had exchanged, the secrets we had shared... She was nothing like any person I had met before. She was charismatic, magnetic, electric, and everyone knew it. When she walked in, every man's head turned, everyone stood up to talk to her.
But as time went on, things got more difficult. We were faced with more and more challenges. In desperation, I begged her to stay- try to remember what we had at the beggining. But it was of no use. Somehow, I always got the feeling that she became torn between being a good person and missing out on all of the opportunities that life could offer a woman as magnificent as her.
That February day, I was sitting by myself, my mind lost in memories of better days. It was when I noticed someone standing beside me. An old friend of mine. He stared at me, with an obviously concerned look on his face, and asked "Are you alright?". I looked up at him, but could not bring myself to answer as I tried to prevent the tears from rolling of my eyes. In that moment, I had realized I had not been able to hide my feelings- he had seen right through me. He instantly hugged me tight, and I was left breathless. There were no words. But we had no need of those.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

15.071

Como chegamos a esse ponto, se todos os meus textos não passam de listas das minhas dores e sofrimento?

sábado, 1 de setembro de 2012

Erotomania

Fui fechando devagar os meus olhos, conforme era gradualmente tomado pela torrente de sensações que o seu toque me provocava. O cheiro inebriante da sua pele e do seu perfume inundou o meu olfato com o odor mais doce que já havia sentido, fazendo minha mente delirar. Seu queixo estava apoiado em minha cabeça, e o seu abraço me acolhia e aninhava no calor do seu peito. Nossos corpos colados se moviam lentamente ao som da música, e só podia pensar no quanto desejava permanecer ali, eternamente amado em seus braços. Sentia-me leve, flutuando, e pela primeira vez na vida acreditei que se morresse naquele momento, morreria genuinamente feliz. Desencostei então minha cabeça de seu peito, e passei suavemente meus braços em torno do seu pescoço, para que eu pudesse admirar o rosto que durante tantas noites se recusou a sair de meus pensamentos. Olhei então para seus lábios atraentes, e desejei do fundo do meu coração que eles estivessem mais próximos dos meus. Aproximei então meu rosto do seu, e senti suas mãos em minhas costas me segurando mais firme, e me envolvendo cada vez mais no nosso abraço. Estava cada vez mais perto e conseguia sentir sua respiração fazendo leves cócegas em meu rosto. Estávamos tão juntos que eu era capaz de ouvir os batimentos do seu coração, tão acelerados quanto os meus naquele momento. Você murmurou algo que não pude decifrar, mas conseguia quase sentir seus lábios, se movendo lentamente contra os meus. Eles eram doces, e pareciam cobertos de mel. Meu único desejo estava a um passo de ser realizado se eu simplesmente puxasse o seu pescoço um -pouquinho- mais para perto. Quando ia me aproximar o centímetro que faltava, no entanto, a manhã veio e sem piedade despedaçou todos os meus sonhos.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O que você quer ser quando crescer?


O que será que isso quer realmente dizer? Por que será que "grande" ou "feliz" não são consideradas respostas válidas para esta pergunta? Parte-se para a análise dos fundamentos por trás dessa pergunta, a partir dos conceitos que nela estão tão profundamente enraizados, a ponto de não fazê-la provocar qualquer reflexão sobre seu real significado, ou seja, a ponto de ninguém que "cresceu" ter qualquer dúvida sobre o intuito da questão. Quando quer que ela seja feita a alguém que, na opinião de quem pergunta, ainda não "cresceu",  o que se tem em mente não é uma resposta que indique uma condição física desejável pela pessoa que é perguntada, muito menos um estado emocional a se atingir. Não, a resposta é mais simples do que isso. Aquele que pergunta deseja saber com o que a pessoa perguntada deseja trabalhar. Dessa forma, é importante notar que um questionamento com esse propósito venha na forma de "o que você quer ser quando crescer". O que isso significa, portanto? Ser alguém trata-se, então, de trabalhar em algo, e se seres humanos são diferenciados nada mais nada menos pelo modo como são, como expressam seu ser, o que diferencia um indivíduo do outro é o seu trabalho. Mas o que é trabalho? A partir de uma das definições do dicionário, o trabalho assalariado, a forma mais comum e mundialmente aceita de trabalho nos dias de hoje, é caracterizado como a relização de uma certa atividade produtiva por parte de um indivíduo que dela ganhará uma recompensa por seu esforço, o salário. Trabalho então refere-se à capacidade de alguém de produzir e gerar coisas por meio de seu empenho. Trocando a palavra trabalho por sua definição, tem-se que, a partir da pergunta original, se ser alguém é trabalhar, a noção de ser alguém é intrinsicamente ligada à capacidade de produzir. Por isso, no contexto do nosso sistema de produção vigente, o capitalismo, o que nos torna pessoas é o nosso potencial de produção. Um ser humano só é valorizado pelo que pode produzir. Portanto, quem serão aqueles que não trabalham? Eles são representados por aqueles estabelecidos como exilados da sociedade; aqueles cuja presença é tida como indesejável. Trata-se dos moradores de rua, dos loucos e dos criminosos. Estes são, quando detectados, enviados à instituições como o hospício e a prisão, para que sejam reeducados e se tornem novamente aptos a contribuir para o mercado de produção atual. Por isso, a pergunta "O que você quer ser quando crescer?" poderia ser substituída por "De que forma você deseja contribuir para o nosso sistema de produção contemporâneo, o capitalismo?" Mas é claro que criancinhas não entenderiam essa frase. Por isso esses conceitos têm de ser instalados no início da formação do indivíduo, para que ele os assimile facilmente sem questionamento e, quando necessário, seja capaz de repetir o processo.

Internet

E eu continuo rolando pra baixo aquela barrinha azul, esperando pra ver se encontro algo que me faça rir ou me dê uma sensação de desconexão com a realidade pra que eu aguente viver por um pouco mais de tempo

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Meh [8]

Diário de Hospital

9 de Junho

Não sabia há quanto tempo estava consciente, mas sabia que havia acordado. Tinha essa certeza pois a única coisa que pude identificar no momento era minha sensação incrivelmente desagradável de que não havia dormido o bastante. Desejei, por alguns instantes, que permanecesse em um estado de semi-consciência, onde não poderia sentir mais nada além do fato de não estar morto. Porém, contra a minha vontade, meus sentidos foram gradualmente retornando a mim, um por um. Primeiro, o olfato me fez sentir o cheiro enojante de hospital, caracterizado pelo desinfetante e pelo odor de limpeza artificial. Em segundo, o tato, quando senti cada articulação do meu corpo doer ao meu menor movimento. Depois disso me veio o paladar, trazendo a sensação amarga dos remédios que haviam me enfiado garganta abaixo. Com a audição, pude ouvir a incessante chuva e o vento batendo na janela. Por fim, abri os olhos, e fui capaz de enxergar as rachaduras do teto branco que iam das extremidades até o centro, onde uma lâmpada presa por uma dupla de fios expostos desafiava a lei da gravidade. Rolando na cama de um lado pro outro, frustrado, olhei pela janela e constatei que não iria ser capaz de ver nada, pois uma neblina densa havia se instalado. Coberto de dores e de desconforto, só conseguia pensar no quanto isso tudo é injusto...

10 de Junho

O médico veio hoje. Ele me fez engolir uma pílula estranha que ardeu cada centímetro de minha garganta, e disse que se ela não aliviasse a minha dor, ele teria de recorrer a medicamentos mais fortes. Eu não quero medicamentos mais fortes. A pílula que tomei já me deixou com enjôos e tonteiras durante o dia inteiro. Além do mais, se eu só me sinto melhor quando estou drogado, quem sou eu de verdade? Não consigo deixar de pensar que a as angústias da vida real são terrivelmente fortes, a ponto de nos vermos obrigados a recorrer a outras realidades que nos auxiliem na enfrentamento da nossa. Sei que devo estar soando patético e fraco, mas nem todo mundo consegue ser tão forte. Será que é tão condenável escolher tentar fugir ao invés de lutar? Algumas pessoas provavelmente diriam que sim, mas nenhum deles teve de passar pelo que passei. Sinto que isto é um pensamento tão egoísta, mas por mais que tente, não consigo evitar o modo como eu me sinto. É muito difícil continuar vivendo desse jeito...

11 de Junho

Ah, Julia... Por mais que eu saiba que é loucura, no meu íntimo eu ainda tenho a esperança de que alguma hora você vai entrar por aquela porta balançando seus lindos cabelos escuros, vai vir correndo me abraçar e me dizer o quanto estava preocupada comigo e o quanto sentiu minha falta. Que vai reabrir a janela do meu coração, trancada por tanto tempo, e novamente fazer crescer flores onde um dia foi um jardim. Por isso, eu observo esperançosamente a porta o dia inteiro. Mas ela jamais se abre. Então eu continuo esperando, preso no casulo da minha dor e solidão. Sentindo-me fraco e desamparado, aguardando eternamente alguém que já sei que não vai voltar. Eu queria tanto poder mudar o modo como as coisas acabaram, Julia... Mas não consigo. Por isso fico aqui, pintando na cabeça um mosaico das nossas lembranças. Da nossa temporada em Cancun. Lembranças de tempos um dia melhores, tempos que não retornam mais. Os anos maravilhosos que tive ao seu lado... Mesmo que a nossa vida juntos tenha terminado desse jeito, eu não trocaria o tempo que passei com você por nada nesse mundo. Se na época que te conheci, alguém do futuro aparecesse para me contar todas as felicidades que eu iria viver com você e me dissesse que o custo delas seria o que estou passando agora, eu não teria dúvidas de que faria tudo de novo. Não posso pedir que você se lembre de mim onde quer que esteja agora, mas não consigo suportar a idéia de você me esquecer. Você me deu tanta coisa, e eu não fui capaz de retribuir nada...
Julia...
Você me fez feliz...

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Meh [7]

Capítulo 7: Paraíso sombrio

Sentia-me flutuando. Minha cabeça se encontrava apoiada em algo macio e confortável. Um familiar e sutil perfume feminino de cheiro extremamente agradável pairava no ar. Eu conhecia esse cheiro, assim como essa sensação de bem-estar. Só poderia ser causada por uma pessoa.
-Ah... Julia?
Pensei por alguns instantes em abrir os olhos, mas notei que me demandaria um esforço que não me parecia necessário naquele momento. Sentia-me diferente por algum motivo. Mais leve, livre das preocupações. Livre das dores. Pela primeira vez em muito tempo, me sentia genuinamente... bem. Será que eu... morri? É isto, então. Morto por um motivo qualquer numa rua qualquer. Morto antes de minha vida ter sequer começado. Morto antes que meu coração pudesse um dia conhecer a tranquilidade...
No entanto...
Ainda sim, havia algo esquisito. Algo ainda doía. Uma dor estranha e latente persistia, e parecia me arrastar com força para algum lugar estranho e assustador. Era uma dor... na minha coluna? Mas se minha coluna doía, isso quer dizer que eu...

Percebi-me deitado em algo duro, e minha coluna doía extraordinariamente. Tive a impressão de que algo pesado havia passado por cima de mim e quebrado todos os meus ossos. Quando, enfim, abri os olhos, me deparei com duas esferas prateadas que me observavam minuciosamente.
-Não é a Julia, seu bobo. É a Juliana...

Eu... ainda estou vivo...

Notei então que estava deitado em uma cama, e ela, sentada em um pequeno sofá ao lado. Tentei me levantar, mas uma pontada de dor fez com que eu cessasse meu movimento, mordendo os lábios e fechando os olhos com força.
-Vai com calma, Tiago. Afinal, você acaba de ser atropelado... Disse ela, dando uma leve risada sarcástica
-A-Atropelado, você diz? Perguntei, atônito.
-Foi o que eu disse. -com um movimento da mão, ela jogou seus longos cabelos negros para trás- Pelo visto, você saiu correndo para atravessar a rua e não conseguiu ver que um carro enorme vinha na sua direção...
Olhei ao redor e percebi que me encontrava em um quarto de hospital. Estava um pouco escuro, mas pelo que consegui enxergar, as paredes e o teto eram pintados de branco, assim como uma porta que dava para um banheiro. O pequeno sofá onde ela havia se sentado era de um tom de azul desbotado, e um armário simples ocupava uma parte de uma das paredes. Presumi que era ali onde haviam guardado minhas roupas. Achei o quarto terrivelmente frio, e notei que fumaça saía de minha boca. Olhei para a janela e vi que estava aberta, exibindo a noite sombria que,  enquanto eu dormia, havia deposto a claridade. Pedi gentilmente que minha companhia fechasse a janela, visto que estava vestido apenas com uma camisola e o frio já estava me fazendo perder a sensibilidade nas extremidades do corpo. Dando de ombros como se o frio não a incomodasse, ela se levantou e caminhou devagar e despreocupada em direção à janela, fazendo ecoar pela sala o barulho de suas botas de salto alto batendo contra o chão.  Quando ela voltou ao seu lugar, pude ouvir a crescente sinfonia que os pingos de chuva começavam a fazer ao se chocar na janela de vidro. Ela prosseguiu:
-Eu estava andando pela rua da praia quando vi uma multidão reunida e resolvi perguntar a alguém o que houve. Me disseram que tinha sido um atropelamento, e quando me aproximei, vi que era você quem estava ali, estirado no chão. Quando a ambulância chegou, eu disse que era sua namorada e que estava muito preocupada com você, e me deixaram vir junto...
-Minha namorada!? Por que você disse isso? Perguntei, interrompendo-a revoltado, enquanto me levantava desajeitadamente da cama. Ofendida, ela levantou-se também e respondeu:
-Ora, como você pretendia que eu me apresentasse? Eu teria tido problemas pra entrar aqui se fosse de outra forma! Além do mais, ninguém teria vindo te acompanhar se eu não o tivesse feito. Você teria acordado aqui sozinho, sem ninguém pra te fazer companhia, como acontece todos os dias! É isso mesmo que você queria, Tiago? Não tem noção do favor que eu te fiz!?
A sua voz havia mudado, como naquela outra vez. E novamente estava me provocando arrepios. Aturdido pela reação dela, gaguejei:
-...M-Mas você não é minha namorada!
-Ah é, tem razão. Perdão por isso. Sua namorada está morta.
Dizendo isso, me encarou desafiadoramente com seus afiados e penetrantes olhos prateados, de modo que não pude deixar de reparar. Por deus, o rosto delas é idêntico... Me sentindo culpado e um tanto arrependido, virei-me para deitar novamente na cama, quando senti uma dor lancinante em minhas costas e soltei um gemido.
-Ah, Tiago! Aqui, deixa eu te ajudar...
Com cuidado, ela prontamente se aproximou e delicadamente me ajudou a recostar na cama. A voz também... 
Perguntei, então, numa tentativa de mudar o assunto, pois já me sentia um tanto cansado:
-...Quanto tempo você acha que eu vou ter que ficar aqui?
-Os médicos disseram que são só alguns dias. Mas não importa. -nesse momento, ela esticou sua mão para alcançar a minha, me provocando uma ligeira sensação de incômodo. - Eu estou aqui pra você, Tiago. O tempo que você precisar de mim...
 Tomado pelo sono, acabei adormecendo.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Bleh

"-Vai, faz um poema ultrarromântico, pra mostrar que você entendeu direitinho a matéria"

...

O meu amor é cinza. Assim como a vida sem ela. Os seus lábios gelados, os seus longos cabelos escuros iluminados pelo brilho prateado da lua cheia. A sua pele pálida e branca imaculada, a sua consciência pura, dormindo em algum lugar escuro e sombrio debaixo da vida. Jaz enterrada em algum túmulo congelado, coberta com a tênue mortalha da noite. Como sonhei com esses olhos fechados e com esse beijo que jamais fora roubado. Como amei a sua presença, ausente em minha vida, para depois não amar a vida, quando sua ausência fez-se presente. A presença da dor, mais poderosa que a dor da ausência que se apresenta. Oh, por que tantas dores sofri e sofro, por esse adeus que estremece a minha vida? Essa sentença que caminha, e a esperança que não volta. Já se afastam os amigos, e já não há mais amada...

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Academia

Havia sido um longo e quente dia. Estavam todos cansados, mas ainda havia uma hora e meia de aula, e nesse momento, a única solução era abaixar a cabeça e obedecer. Assim, saí de Santa Teresa às 3:40 da tarde para chegar no Cosme Velho às 4 e ter uma aula de inglês que duraria uma hora e meia, para depois, enfim, chegar em casa às sete. Certamente, um dia cansativo, mas teria de ser vivido, assim como muitos outros, pois não há botão de 'avançar'. Após a aula, caminhamos conversando, conforme o céu ficava cada vez mais escuro e a brisa suave balançava de leve as folhas das árvores. Apesar de minha boca naquele momento estar falando inúmeras palavras que pareciam interessantíssimas para quem as ouvia, minha mente vagava em outro mundo, em alguma outra história. Depois de finalmente me despedir das pessoas, pus-me a subir a rua, para encontrar minha mãe em sua academia e pegar uma carona até em casa. Ao chegar na academia, me deparei com a mesma cena de sempre: um monte de gente feia em suas tentativas pessoais de se exercitar. Como não poderia deixar de ser, a academia é repleta de espelhos, e as pessoas se olhavam neles, rastreando minuciosamente o próprio corpo, e o dos outros, é claro, a procura das menores e mais insignificantes imperfeições. À medida que andava em busca de minha mãe, obviamente, olhei-me no espelho, pois ainda há de ser encontrado ser humano que resista à tentação de se olhar no espelho quando vê um. A situação que vi, então, através do espelho, me chamou a atenção. Observava a mim mesmo, ao lado de todas aquelas pessoas velhas, feias, suadas, tentando desesperadamente manter um mínimo de boa forma e falhando terrivelmente na tentativa. Observei pessoas cansadas, com dor nas costas e suor escorrendo da testa, se degladiando no objetivo de chegar ao veredito de quem era menos asqueroso. Observei então, a mim mesmo novamente. E conclui que não há nada mais valioso no mundo do que a beleza e a juventude.

O sermão da Santa

Eu não posso dizer que conheço o seu sofrimento e sei exatamente pelo o que você está passando, pois não enfrentei sua situação. Eu só posso te pedir para resistir à sua sede por vingança, pois ela não trará paz alguma. Quando -certas coisas- aconteceram comigo, só o que pude fazer foi odiar a mim mesma por permitir que isso acontecesse. Depois, direcionei meu ódio à -ela-, pois acreditei no fundo do meu coração que ela era a culpada pelo meu infortúnio. Porém, um dia me ocorreu: Nada de bom viria de odiá-la e de lamentar o meu passado. Eu só poderia moldar o futuro e curar o sofrimento atual, das pessoas ao meu redor. A minha paz interior ainda poderia ser realizada nos meus dias, oferecendo auxílio a quem necessitasse. Nada de bom virá de arranhar feridas antigas. Não seja tola, e dê tempo ao tempo para curá-las. O ódio vai tentar te convencer de que o pecado a libertará, mas no final, você terá apenas a si mesma para odiar. Se você realmente deseja trazer paz a si mesma, viva sua vida para melhor, e não para vingança. Ódio e agonia não são motivos pra viver; esperança sim.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

O conceito de Meh

Eu posso não saber o que será o amanhã, mas sei o que será o meu fim. E não parece bom.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Meh [6]

Capítulo 6: O castelo de cartas


...Por quê isso?


Mais uma vez, o sinal estridente havia tocado, anunciando o término das aulas. Arrumei calmamente meu material enquanto a multidão irritante de pessoas saía esbaforada pela porta da sala de aula. Levantei-me, e me dirigi à saída. Fiz um caminho diferente. Entrei na rua pela direita e segui, passando direto pela rua que ia em direção à praia e evitando-a. Andava pela calçada no ritmo de sempre. O ritmo de um ser humano que agora feito morto, vivia. Um ser humano cansado da luta insana, sem glória, a que todos se entregavam todos os dias para amanhecer cada vez mais pobres. Ia absorto em meus pensamentos, observando a paisagem ao meu redor. Andava com as mãos no bolso e a cabeça abaixada. O vento batia frio, balançando as folhas das copas das árvores que enfeitavam aquela rua, fazendo um som de ondas batendo contra uma costa. As nuvens cinzentas cobriam lenta e silenciosamente cada recanto do céu, anunciando a chuva que os jornais da manhã haviam previsto. Por algum motivo, aquela paisagem fria e mórbida provocava-me uma espécie de sensação de pertencimento, por mais estranho que isso parecesse. Como se ao mesmo tempo em que era cruel e rígida, era também um dos únicos lugares em que poderia mergulhar em minha mente sem ser incomodado. Foi quando de súbito, tão rápido quanto um choque passando pelo meu corpo, tomei consciência da minha própria situação desesperadora. Havia um bar na calçada na qual estava andando e, nele, a causa de minha aflição. Pessoas que reconheci de minha sala de aula estavam sentados em uma mesa próxima à saída. Em especial, notei um garoto que havia tentado "conversar" comigo anteriormente. Ele era terrivelmente inconveniente, mas já era tarde para mudar de calçada. Por um instante, amaldiçoeei o máximo que pude minha capacidade de me desligar do mundo ao meu redor. Por outro, desejei com todas as forças que ninguém me reconhecesse. Desejei como talvez só tivesse desejado -uma- outra coisa em minha vida. Obviamente, não era pra ser.
-Ei!
O garoto se levantava da mesa e corria em minha direção.
-Ei! E aí, cara?
-...Olá
-Escuta, Tiago. É Tiago, não é? Escuta, você não quer sentar com a gente?
Dei uma rápida olhada na mesa para a qual ele apontava e respondi, quase que instantâneamente.
-Er...Não, obrigado.
Visivelmente decepcionado, o garoto murmurou algo antes de caminhar de volta para seu barulhento grupo de amigos. Que baboseira, pensei, enquanto voltava-me à direção na qual estava andando, agradecido por essa situação ter terminado sem maiores problemas. Porém, por algum motivo ou impulso violento vindo de algum lugar desconhecido de meu interior, olhei para trás. E os vi.
Estavam todos rindo e se divertindo, brindando a algo não-identificável. Observei se formarem os sorrisos dessas pessoas que via todos os dias, embora não soubesse absolutamente nada sobre elas. Quem seria eu, então, para julgá-las de desinteressantes? A cena agora passava diante de meus olhos como em câmera lenta. E aqui, observando de fora aquela baboseira toda, só o que conseguia pensar era em como ela deveria ser tão estupidamente aconchegante e acolhedora... Experimentei então uma sensação de profundo pesar, que veio misturada à lembranças agridoces de tempos um dia melhores. Não há infelicidade maior do que relembrar, sozinho, a época em que juntos fomos felizes. Pensei então em o que havia se tornado minha vida, um eterno acúmulo de idas, partidas e ausências. Mas o que, afinal, eu poderia fazer por mim? Estava exausto de abraçar o vazio. Escravo do desespero, da falta de esperança, da impossibilidade de travar novas lutas, de inventar uma outra e nova vida. Por vezes havia tentado, e nesses momentos, enchia-me de idéias e de bons propósitos. Mas quando me dava por mim, me via quieto, sentado em meu canto, olhando o tempo passar. Será que isso era mesmo vida? Será que só isso bastava? O que acontecera com todos aqueles sonhos, tão certos de uma vida melhor? Havia tecido uma rede deles, e agora via um por um dos fios desmanchar e destecer, até tudo se tornar um grande vazio. O vazio que restou de quem um dia foi feliz. Acho que, no final das contas, minha existência se resume a isso. Pensamentos e lembranças da época em que vivia. É tudo que eu sempre tive...
Foi quando me ocorreu.
-A praia!
Não contive o grito e saí disparado. Corria freneticamente como uma máquina. O vento gélido se chocava contra meu rosto e meu nariz, e suor pingava de meu corpo a cada minuto que corria. Minha respiração estava ofegante e me faltava ar nos pulmões. Tive a impressão de que teria um ataque do coração, tamanha a velocidade com que ele batia. Uma leve sensação de déjà vu passou pela minha mente, mas foi embora tão depressa quanto chegou. Meus pés pareciam não tocar realmente no chão, e a cada passo que dava, meu medo de me desequilibrar ou tropeçar tornava-se mais aterrorizante. Me deslocava desconsiderando qualquer obstáculo em minha frente e empurrando todos ao meu redor. Minha velocidade aumentava perigosamente, e eu não tinha mais certeza se seria capaz de parar, quando de repente, ouvi uma voz feminina berrar desesperada.
-CUIDADO!
Olhei para o lado e só o que consegui ver foram duas luzes brancas vindo desenfreadas em minha direção.
Escuridão...

segunda-feira, 2 de abril de 2012

domingo, 25 de março de 2012

O laço

Laços. Um nó, uma interligação, uma teia, uma relação. Propósito. Desígnio, intento, deliberação. Laços, e Propósito. Procura-se os laços que unam a si mesmos ao propósito. Haverão? Seria, de fato, frutífera tal busca? Dessa forma, permite-se então a ponderação. A noção de Zygmunt Bauman sobre a liquidez no que se refere à relações humanas tem um sentido inverso ao empregado em economia. A liquidez de uma conta grande no banco torna acessível a transformação de todos os sonhos em concreta realidade. No entanto, o mundo identificado como líquido possui as características de ser maleável, marcado pela ausência de peso e em constante movimento, gerando nos indivíduos uma profunda sensação de apreensão, a insegurança, o que por consequência implica na experiência da realidade como algo incerto, incontrolável e assustador. O ser humano requer um sentimento constante de segurança e proteção. Uma sociedade sem regras claras, sem valores morais e sem limites, o leva ao desespero. Émile Durkheim escreveu sobre isso em sua obra O Suicídio, em que trata do suicídio como uma questão social, procurando estabelecer a forma como ações individuais podem ser resultado do meio social que cerca os indivíduos. Observando taxas de suicídio, conclui que ele pode ser consequência de interações sociais muito fracas, pois o indivíduo sente-se perdido e sozinho. Ao mesmo tempo, pode ser resultado de interações muito fortes, quando os indivíduos preferem destruir a si mesmos a viver sob controle do outro. Por isso, paralelamente ao desejo de segurança, uma das marcas do perído denominado por Bauman como "Pós-modernidade líquida" é um desejo de liberdade, que acompanha a velocidade das mudanças tecnológicas, econômicas, culturais e cotidianas. Assim, esse quadro resulta em desejos conflitantes de estreitar os laços humanos e, ao mesmo tempo, de mantê-los frouxos. Viver em sociedade é viver em rede. Portanto, não há ser humano que não estabeleça laços pois não há ser humano que não viva em sociedade.
Tendo deixado clara a importância dos laços para os seres humanos e para a sociedade, parte-se para a análise da natureza desses laços. Certamente que exemplos não faltam. Exceto alguns casos de laços de mães para com filhos, que não parecem apresentar qualquer traço de comportamento lógico, todos seguem uma linha previsível de desenvolvimento. Deve-se, no entanto, ter a noção clara que o relacionamento mãe-filho não segue a mesma lógica que um relacionamento filho-mãe. Fora essa exceção, quaisquer outros casos de laços são completa e unicamente baseados no interesse de quem os ata. Casamento, amizade, laços familiares, todos são baseados em princípios de um animal fundamentalmente egoísta e, se por algum motivo não o parecem ser, é simplesmente uma inclinação criada e adquirida, ensinada, o sinal mais certo desse egoísmo em atividade. É necessário ressaltar que o conceito de egoísmo é comumente tomado como egocentrismo. O egoísmo é a atitude de um indivíduo que coloca seus interesses em primeiro lugar, enquanto o egocentrismo caracteriza-se pela fantasia de alguém de que o mundo gira em torno de si. Desse modo, seres humanos são invariavelmente egoístas, mas não necessariamente egocentristas, uma vez que lutam para fazer com que os fatos se moldem a seus interesses. Portanto, apesar de não serem sempre capazes de compreender o motivo por trás da importância dos laços, seres humanos obrigatoriamente acreditam 'sentir' que laços são fundamentais. Ao acreditar 'sentir', no entanto, falham em realizar a verdadeira natureza dos laços, partindo do princípio errôneo de que seres humanos podem agir por algum outro motivo que não o interesse próprio.

quinta-feira, 22 de março de 2012

(In)Gratidão

-Você não quer fazer uma oração antes de comer?
-...Obrigado, deus, por essa maravilhosa refeição entupida de gordura feita às pressas num forno de microondas. Obrigado, por esses talheres de prata que ferem incessantemente minha boca mas são elegantíssimos de se usar. Obrigado por nascer nessa bela família emocionalmente e financeiramente estável, para que eu não saiba jamais o que é ter de enfrentar dificuldades verdadeiras e lutar pelo que quero. Obrigado por ser tão bonito que obviamente estive sozinho todo esse tempo porque tenho problemas em assumir relacionamentos. Obrigado por me criar repleto de possibilidades, de modo que certamente terei o desprazer de passar minha vida em um colégio, me formar em uma ótima faculdade e ter um maravilhoso emprego que me impeça de ter tempo para fazer as coisas que gosto. Obrigado, deus, por me dar um corpo charmoso, para que pessoas aleatórias da rua elogiem-no e impeçam meu ego de despencar pelo chão. Obrigado por viver em um mundo pessoas tem que se esconder para se amarem em paz. Obrigado por me cercar de pessoas interessantes à todos os momentos, de modo que sou claramente anti-social por querer ficar sozinho. Obrigado por me dar esses belos olhos, que não transmitem qualquer sombra de empatia e foram treinados para observar a primeira oportunidade de usar os outros como degraus. Obrigado por agraciar todos os dias meus ouvidos com a bela cacofonia dos sons urbanos. Obrigado por todas essas vantagens e qualidades que fazem com que qualquer sofrimento que eu venha a experimentar seja obviamente auto-inflingido. Obrigado pela sorte que eu tenho de odiar ser levado a sério todas as vezes em que decido conversar de verdade com alguém, ou escrever um texto. E, acima de tudo, obrigado, muito obrigado, meu deus, por me fazer tão inteligente.
-...Amém.

segunda-feira, 12 de março de 2012

O tempo

É lento demais para aqueles que esperam
é rápido demais para aqueles que temem
é longo demais para aqueles que sofrem
é curto demais para aqueles que regozijam
mas é eterno para aqueles que amam

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Perfeito

Caso não os achemos
naquela noite estrelada
coberta de amores terrenos
cheirando à um'alma molhada

Se não os encontrarmos,
livrar-nos-emos desses fardos
que do bem-estar, nos privou,
foi o que você me sussurrou

Se de fato nos perdemos
se realmente não os veremos
Então de tudo desistiremos
e essa noite amaremos

Dividindo com todos os amantes
dividindo com todos os passantes
esse nosso mundo de romances
de sua beleza não nos tornar ignorantes

Pois provocado por esse mar calgo,
quem poderia sentir algo
que não fosse a mais bela dor
e o mais belo temor
causados por essa nossa razão,
causados por essa nossa paixão
que é o amor

Você me disse então deita
e ama esses amantes imperfeitos
e ama esse nosso céu imperfeito
pois o amor é olhar o imperfeito
e conseguir vê-lo apenas...

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

...

-Nicholas falou que é pra levarmos o que formos beber ou comer
-Ok
-Ok?
-Ok, porque acabo de descobrir que ainda tenho 40 reais, E QUE SOU RICA!

EU SOU RICA!

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A árvore

Certo dia estava passeando por um parque ouvindo música, quando sentei debaixo da sombra de uma grande árvore, enquanto remoía pensamentos e lembranças. Naquele dia, minha vontade era somente ficar ali, debaixo da árvore, com a minha mente e a minha música, imperturbado. Obviamente, não era pra ser. "É mal de amor que você tem, meu filho" foi o que a árvore me disse. Perguntei então o que ela poderia sequer imaginar saber sobre o amor, além das marcas que os bêbados e os apaixonados deixaram em seu tronco. Ela então me disse que o amor era como ela, uma árvore. Que nascia de sementes distraídas brotando ao acaso, e que se também por acaso a morte precoce não as alcança, crescem e tomam força, fugindo do sol e se enraizando no fundo e no subterrâneo. Lá é onde está o que não se deve mostrar, as nossas fraquezas e nossos medos disformes, nossos defeitos e manias, as nossas vergonhas. Lá embaixo é a fonte das horas difíceis do amor, aquelas que ninguém quer ter ou lembrar. Os momentos de deleite são os galhos crescendo em direção a luz do sol, em busca do claro e do calor das boas horas do dia e, acima de tudo, em busca do perigo e da desventura.  É ali onde se revela o que há de melhor de nós, folhas verdes em formas de sorrisos e afagos. A copa da árvore é a boa ventura do amor.
Perguntei então à árvore se ela que tinha inventado essa história de amor e árvore. Ela respondeu que tinha sido obra de um poeta que, assim como eu, havia se sentado debaixo da sombra da árvore, e havia escrito algo mais ou menos assim. No dia seguinte, eu quis voltar ao lugar onde a árvore estava, na esperança de que a inspiração que atingiu o poeta me atingisse também. Ao chegar, me deparei com uma cena desesperançosa. A árvore havia sido cortada. Dei meia volta e caminhei silenciosamente pra casa, pensando no que ela havia me dito, sobre a copa e as raízes do fundo. Pensando que talvez, todo amor seria também um dia cortado, e só sobrariam as raízes, sepultadas em algum buraco escuro no fundo do coração de quem um dia amou. Balancei a cabeça, repudiando esse pensamento negativo. Pensei, então, que certas árvores vivem centenas de anos antes de morrerem.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Domingo

- Eu nem sei se eu quero ir...
Pausa.
Me ocorreu, durante alguns instantes, que sua voz provavelmente tinha saído mais fraca do que ela desejava.
- O quê? ...Pai? Espera, não tô te ouvindo...
Ela pôs no viva voz
- Não, minha filha, viaja sim! Vai se divertir, passear...
Nesse momento, ela virou um pouco o rosto, enxugando as lágrimas que escorriam nas suas bochechas e manchavam a maquiagem que ela havia demorado horas pra fazer. Eu sabia que isso ia eventualmente acontecer. Ela nunca foi muito boa de segurar esse tipo de coisa, mas mesmo assim... que vergonha.
- Tá bom, pai, então eu vou sim...
- O que foi, minha filha? Tá chorando?
- Tô...
- Mas por quê?
Então ela começou, com aquela voz chorosa e quase suplicante, de quem pede uma solução inexistente para um problema.
- Ai, porque é uma viagem que eu não sei se vai ser boa, sabe? E eu tô preocupada...
- Você precisa se distrair, filha, vai sim. Não se preocupa comigo. Eu vou continuar aqui. Não vou a lugar nenhum...
- Tá bom, pai. Então amanhã eu passo aí, tá? Me espera?
- Espero sim.
- Então tá... boa noite, pai. Beijo.
- Beijo.
E ela continuou a chorar. Com a quantidade de álcool que ela havia bebido, eu arriscaria dizer que as lágrimas dela eram feitas de puro álcool. E se eu já não me sentia seguro dela estar dirigindo antes, agora que estava também chorando, eu contava os segundos para quando seríamos atingidos por um caminhão ou algo do tipo. No entanto, os segundos também se aproximavam da hora do segundo round. E o segundo round sempre era o pior de todos, porque era sempre comigo. Cruzei os braços, numa tentativa desesperada de impedir qualquer forma de contato ou comunicação. Porém...
- Tá tudo bem? Disse ela.
- Sim. E com você?
- Bom...
E o meu pesadelo começa em 3...2...1...
- Tava pensando, sabe, nesse negócio da viagem. Eu não sei se vai ser boa, entende? Queria viajar com um monte de preocupações a menos, mas o meu pai, como você já sabe, tá internado, e eu discuti com o Otávio por causa... por causa de que mesmo? Já nem sei mais...
- ...
- O que você acha?
- De quê?
- Do que aconteceu na casa do seu pai.
- Não sei, não presto atenção na conversa alheia (nota-se que eu disse "conversa", mas meu intento era dizer "lavação de roupa suja").
- Mas aquilo não foi particular, foi público.
- Independente disso.
Pausa.
- E o que te incomodou o dia inteiro? Continuava ela.
- Eu estive incomodado de manhã e agora, sem relação um momento com o outro.
- Por que de manhã?
- Dormi menos do que desejava.
- E por que agora?
- Porque você está chorando.
Percebi que falei besteira. Acabaria fazendo-a chorar mais, e eu sairia ainda mais prejudicado. No entanto, contrariando todas as minhas expectativas, ela recompôs-se.
- Isso te incomoda?
- Profundamente
Nova pausa.
- Por quê?
- Você está se envergonhando.
- Como assim?
- Você, uma mulher adulta, está chorando na minha frente.
- Eu não tenho vergonha de chorar na frente do meu filho. De chorar na frente de alguém que eu amo.
Não sei o que eu disse nesse momento, mas acredito que tenha sido algo sobre aprender a lidar com certas coisas nas horas apropriadas.
- Você acha tão insuportável que eu esteja chorando aqui e agora?
- Sim. Acho insuportável o modo como você me obriga a ser cúmplice do seu sofrimento. Insuportável como parece tentar me privar do direito de imperturbabilidade com assuntos que, particularmente, não me interessam.
- Te faz tão mal me ver sofrendo?
- Isso é pura inconveniência.
- Inconveniência? Essa é uma palavra formal, que não se aplica à relação mãe e filho.
Dei uma risada de desdém, alta o suficiente para que ela ouvisse, mas baixa o suficiente para parecer não intencional.
Longa pausa.
- Eu fico realmente surpresa com a sua indiferença, sabe. Você me fala algumas coisas, e eu me agarro à esperança de que você não saiba realmente do que tá falando... mas aí você me diz que sabe, e eu acho isso tão surreal...
- ...
Então o carro entrou na garagem e ela abriu a porta, enquanto falava algo sobre como as coisas não continuariam as mesmas, e de como parecia que eu achava tudo uma 'merda igual'.
- Tchau, ela disse.
- Tchau, até amanhã.

...

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

                                              SANATÓRIO BROOKHAVEN
                                                          
                                                   Número do caso: 222.
                                                   Data de Admissão: 14 de Fevereiro de 20...
   

   1) Idade:                            x   Abaixo de 18
                                                 Entre 18 e 25
                                                 Entre 26 e 33
                                                 Entre 34 e 45
                                                 Acima de 46

   2) Sexo:                                Feminino
                                            Masculino
   
                                               Casado
                                               Viúvo
                                            x Solteiro

  3) Tem família?    Desconhecido    

  4) Ocupação:   Hmm...              

  5) Hábitos de vida:  ...Isso pode querer dizer qualquer coisa    

  6) Religião:    Ateu       
 
  7) Trazido por quem?:    Madame Mornington, Diretora    

  8) Forma de insanidade: Transtorno de personalidade borderline   

  9) Suposta causa:  Desconhecida, possivelmente predisposição genética       

10) O problema é hereditário?                   x   Sim
                                                                   Não

11) É suicida?                                            x  Sim 
                                                                     Não

12) Representa risco para outros?              x  Sim
                                                                   Não

13) É destrutivo para propriedade alheia?  x  Sim
                                                                 Não

14) Estado de saúde corporal: ...Doente                                                      

15) Marcas de violência?                           x  Sim
                                                                  Não 

Se sim, especificar:   Cortes e cicatrizes (auto-inflingidos, é claro)   


Anotações do médico: Propenso a mudanças de humor repentinas, variando frequentemente de um estado de profunda apatia e melancolia, a um de extrema agitação, responsável pela perturbação do bem-estar geral da Casa. Diz ouvir vozes à noite. Realizou diversas tentativas de suicídio envolvendo objetos cortantes. Acusa todos que se aproximam de serem robôs com uniformidade de pensamento. Conspirou com garotos de rua para assaltar uma igreja e destruir símbolos religiosos. Desenhos e palavras desconexas feitos a giz branco em toda a extensão da parede, o que afirma serem seus poemas e obras de arte. Arrogante frente a opções de tratamento, baseando seus argumentos no fato de acreditar veementemente ser mais inteligente que outros.                                                        

                                                                                                  "Awareness is the enemy of sanity, for once you hear the             screaming... it never stops"

    domingo, 8 de janeiro de 2012

    Textos alheios

    Não, não peça a minha opinião sobre um texto que você escreveu. Eu vou detestar de qualquer maneira. Se for ruim, vou detestar porque odeio ler coisas ruins. Se for bom... bom, escritores são competitivos. Se for bom eu vou detestar mais ainda porque vou ficar com inveja. Não confie na minha opinião de maneira alguma.

    sábado, 7 de janeiro de 2012

    Mudez Funcional

    Naquele momento, sentou-se decidido na cadeira e pegou uma caneta. Encarou por um instante o papel em branco, decidido a registrar de uma vez o monólogo que se desenrolava noite após noite em sua cabeça durante todos esses anos. Decidido a traduzir para o papel a solidão que permeava seu âmago todas as vezes que, deitado, olhava para as rachaduras no teto, imaginando qual seria o real significado de tudo isso. Sabia que somente o papel iria ouvi-lo, pois o mundo ao redor parecia roubar o eco de suas palavras. Estava cansado de remoer idéias no peitoril da varanda, observando a solidão depressiva de uma noite abarrotada de luzes artificiais. Cansado de suspirar palavras adocicadas nos ouvidos da mulher sem cérebro que o esperava em casa, dia após dia, com uma refeição pronta e com as pernas abertas. Desgastado pela apatia que o encarava toda manhã através do espelho, mascarada pelos rostos e risadas que foram sempre capazes de conquistar todos ao seu redor. Sem motivações para inventar uma outra e nova vida para preencher esse vazio, que almejava algo desconhecido em algum horizonte muito além do nosso. Mas, acima de tudo, profundamente amargurado pela noção de que 'crescer' significava somente aprender a esconder aquilo que de lá de dentro vinha. Sabia, portanto, que deveria registrar algo. Independente de alguém ler ou não, serviria como a única manifestação contrária à uma vida inteira que copiou o senso de moralidade dos robôs ao seu redor.  Porém, no instante em que sentou-se na cadeira para finalmente revelar ao papel suas aflições, paralisou. Sua mente estava em branco. Ele não simplesmente desconhecia o modo apropriado de dar forma à seus pensamentos. Era como se já não soubesse mais o que um dia quis dizer em primeiro lugar. Permaneceu imóvel durante alguns minutos, até despertar num estalo, abrindo seu laptop e lembrando que tinha trabalho à fazer.

    ...

    terça-feira, 3 de janeiro de 2012

    Reflexões da Madrugada pt. 4

    "Penso, logo existo". Ou penso, pois existo? O que afinal existe, nós ou nossos pensamentos? Talvez não estejamos realmente aqui. Talvez sejam apenas nossas mentes criando um mundo irreal para o nosso entretenimento. Talvez eu seja na realidade o fruto da sua imaginação, ou talvez eu e você sejamos o fruto da imaginação alheia. Nos questionamos o tempo todo sobre diversas coisas, mas raramente paramos pra pensar por que estamos aqui e por que vivemos e sofremos... Devemos nos perguntar? Não sei, mas mesmo assim eu me pergunto, sem jamais obter as respostas. Eu pergunto, e sem saber o porquê das perguntas, me pergunto, por que? Eu não sei... Mas sou feliz. Sou feliz porque quero morrer. Sou feliz porque quero desaparecer, porque quero... retornar ao nada.