quarta-feira, 25 de abril de 2012

O conceito de Meh

Eu posso não saber o que será o amanhã, mas sei o que será o meu fim. E não parece bom.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Meh [6]

Capítulo 6: O castelo de cartas


...Por quê isso?


Mais uma vez, o sinal estridente havia tocado, anunciando o término das aulas. Arrumei calmamente meu material enquanto a multidão irritante de pessoas saía esbaforada pela porta da sala de aula. Levantei-me, e me dirigi à saída. Fiz um caminho diferente. Entrei na rua pela direita e segui, passando direto pela rua que ia em direção à praia e evitando-a. Andava pela calçada no ritmo de sempre. O ritmo de um ser humano que agora feito morto, vivia. Um ser humano cansado da luta insana, sem glória, a que todos se entregavam todos os dias para amanhecer cada vez mais pobres. Ia absorto em meus pensamentos, observando a paisagem ao meu redor. Andava com as mãos no bolso e a cabeça abaixada. O vento batia frio, balançando as folhas das copas das árvores que enfeitavam aquela rua, fazendo um som de ondas batendo contra uma costa. As nuvens cinzentas cobriam lenta e silenciosamente cada recanto do céu, anunciando a chuva que os jornais da manhã haviam previsto. Por algum motivo, aquela paisagem fria e mórbida provocava-me uma espécie de sensação de pertencimento, por mais estranho que isso parecesse. Como se ao mesmo tempo em que era cruel e rígida, era também um dos únicos lugares em que poderia mergulhar em minha mente sem ser incomodado. Foi quando de súbito, tão rápido quanto um choque passando pelo meu corpo, tomei consciência da minha própria situação desesperadora. Havia um bar na calçada na qual estava andando e, nele, a causa de minha aflição. Pessoas que reconheci de minha sala de aula estavam sentados em uma mesa próxima à saída. Em especial, notei um garoto que havia tentado "conversar" comigo anteriormente. Ele era terrivelmente inconveniente, mas já era tarde para mudar de calçada. Por um instante, amaldiçoeei o máximo que pude minha capacidade de me desligar do mundo ao meu redor. Por outro, desejei com todas as forças que ninguém me reconhecesse. Desejei como talvez só tivesse desejado -uma- outra coisa em minha vida. Obviamente, não era pra ser.
-Ei!
O garoto se levantava da mesa e corria em minha direção.
-Ei! E aí, cara?
-...Olá
-Escuta, Tiago. É Tiago, não é? Escuta, você não quer sentar com a gente?
Dei uma rápida olhada na mesa para a qual ele apontava e respondi, quase que instantâneamente.
-Er...Não, obrigado.
Visivelmente decepcionado, o garoto murmurou algo antes de caminhar de volta para seu barulhento grupo de amigos. Que baboseira, pensei, enquanto voltava-me à direção na qual estava andando, agradecido por essa situação ter terminado sem maiores problemas. Porém, por algum motivo ou impulso violento vindo de algum lugar desconhecido de meu interior, olhei para trás. E os vi.
Estavam todos rindo e se divertindo, brindando a algo não-identificável. Observei se formarem os sorrisos dessas pessoas que via todos os dias, embora não soubesse absolutamente nada sobre elas. Quem seria eu, então, para julgá-las de desinteressantes? A cena agora passava diante de meus olhos como em câmera lenta. E aqui, observando de fora aquela baboseira toda, só o que conseguia pensar era em como ela deveria ser tão estupidamente aconchegante e acolhedora... Experimentei então uma sensação de profundo pesar, que veio misturada à lembranças agridoces de tempos um dia melhores. Não há infelicidade maior do que relembrar, sozinho, a época em que juntos fomos felizes. Pensei então em o que havia se tornado minha vida, um eterno acúmulo de idas, partidas e ausências. Mas o que, afinal, eu poderia fazer por mim? Estava exausto de abraçar o vazio. Escravo do desespero, da falta de esperança, da impossibilidade de travar novas lutas, de inventar uma outra e nova vida. Por vezes havia tentado, e nesses momentos, enchia-me de idéias e de bons propósitos. Mas quando me dava por mim, me via quieto, sentado em meu canto, olhando o tempo passar. Será que isso era mesmo vida? Será que só isso bastava? O que acontecera com todos aqueles sonhos, tão certos de uma vida melhor? Havia tecido uma rede deles, e agora via um por um dos fios desmanchar e destecer, até tudo se tornar um grande vazio. O vazio que restou de quem um dia foi feliz. Acho que, no final das contas, minha existência se resume a isso. Pensamentos e lembranças da época em que vivia. É tudo que eu sempre tive...
Foi quando me ocorreu.
-A praia!
Não contive o grito e saí disparado. Corria freneticamente como uma máquina. O vento gélido se chocava contra meu rosto e meu nariz, e suor pingava de meu corpo a cada minuto que corria. Minha respiração estava ofegante e me faltava ar nos pulmões. Tive a impressão de que teria um ataque do coração, tamanha a velocidade com que ele batia. Uma leve sensação de déjà vu passou pela minha mente, mas foi embora tão depressa quanto chegou. Meus pés pareciam não tocar realmente no chão, e a cada passo que dava, meu medo de me desequilibrar ou tropeçar tornava-se mais aterrorizante. Me deslocava desconsiderando qualquer obstáculo em minha frente e empurrando todos ao meu redor. Minha velocidade aumentava perigosamente, e eu não tinha mais certeza se seria capaz de parar, quando de repente, ouvi uma voz feminina berrar desesperada.
-CUIDADO!
Olhei para o lado e só o que consegui ver foram duas luzes brancas vindo desenfreadas em minha direção.
Escuridão...

segunda-feira, 2 de abril de 2012