domingo, 25 de junho de 2023

Ouvindo os sussurros que o vento sopra na minha direção, crio uma história com os fragmentos pra saciar meu desejo por sentidos.

Às vezes você achou uma família que te ama do jeito que você gosta e está tão feliz que não tem tempo pra mais nada. Às vezes eu fiz merda e você ficou com raiva a ponto de não querer escrever mais pra mim. Às vezes não sei o que pensar e aos domingos isso dói, especialmente no finalzinho da tarde.

Às vezes me pergunto por que escrevo pensando em você, e em outras me pergunto por que não escrevo pra você. Então não me sinto no direito de remexer suas emoções te perguntando de uma forma profunda como estão as coisas. E por isso eu escrevo pra mim. 

E por isso eu danço pra mim. Então sei que o corpo entrega o que não posso dizer, e por um lado ainda espero que não seja tarde demais e você possa vir me ver um dia. Por outro lado...

domingo, 18 de junho de 2023

Como você fala de mim quando eu não estou perto?

Embora eu busque clarividência, não é possível encontrar correspondências exatas entre as coisas que eu sacrifiquei e aquilo que me abri pra receber em troca. 

Eu, que me pendurei por 60 dias nos galhos da árvore-mundo, me abaixei pra encontrar a sabedoria daqueles que transbordam as fronteiras. Gritando, eu conheci.

Curiosidade e desejo me movem a explorar, tatear os cantos obscuros, revelar o oculto no lampejo. Gravar no fundo dos olhos a memória da vida e estar presente pelos lugares que andei. Me atravessar e me refazer. Ninguém sai ileso da presença. 

O brilho não pede passagem, se impõe. E se eu não sinto que é, é porque não é.

A resposta sobre qual vida queremos viver não é necessariamente simples. Envolve em primeiro lugar uma percepção sobre autonomia que não é fácil de abordar. Em primeiro lugar porque a liberdade enquanto direito fundamental é negada a diversas formas de vida por conta de atravessamentos diversos. Frequentemente temos a impressão de que as condições são tão avassaladoras que o poder de escolha é tirado de nós. Simplesmente parece não haver alternativa.


Em segundo lugar porque a natureza contínua e transformadora da vida coloca em movência a resposta. Soterrados diante das possibilidades a escolha sobre o que fazer implica uma renúncia; mil vidas que não foram e nem serão vividas. 


No budismo o sofrimento vem do apego e da dificuldade de lidar com a impermanência das coisas. Mortes, distância, transformações e mudanças: algo com o qual estávamos acostumados não estará mais lá. 


Mas, não é o Orí de outra pessoa, e diante disso existe uma responsabilidade que não se pode transferir. Oxum lava suas jóias antes de lavar a cabeça de seus filhos.


Então o amor como gesto de cuidado é direcionado primeiro para si. E depois para o outro.


O que é esse auto cuidado? Falar consigo mesmo como se você estivesse dando apoio pra um amigo. E ter de fato amigos é importante pra fortalecer esse apoio. O amor próprio nos ensina algumas coisas, e o amor comunitário ensina outras.


Mas quem tem direito ao amor? Quem tem direito à autoestima? Foi triste dizer que estava indo embora porque o meu cuidado se tornou pesado e desequilibrado demais para suportar. 


A minha vida não pára por ninguém, eu disse. E num instante a fantasia de uma vida juntos se tornou fumaça, menos palpável, mais distante. E isso é algo que posso escolher. 


Posso escolher porque tenho os recursos pra isso. Posso escolher porque penso sobre a escolha, porque banco ela materialmente, porque banco ela emocionalmente. Essas são as condições, os custos. O processo de vivenciar isso tudo e sofrer. Sofrer, pra poder escolher.


Então o sofrimento pode afastar da escolha. Aceitando-o ou evitando-o, somos movidos pela relação com o padecer-se na forma mais comum, vulgar.

terça-feira, 6 de junho de 2023

Meh [15]

 7 anos depois.


Tanto tempo se passou, Tiago. Você viveu muitas coisas, e ainda tem as mesmas intensidades que sempre teve. Mas, é hora de se despedir. Não adianta tentar reviver a mesma história que já passou. A Julia não vai voltar, e mesmo que volte, já não vai ser a mesma. É preciso encerrar, e seguir em frente. Esse é meu conselho pra você.

Talvez a vida não seja como você tinha imaginado. Talvez você se sinta triste, sozinho ou perdido. Talvez esteja bem, o que é uma esperança e honestamente tudo que eu desejo pra você.  Quero que você saiba que você tem um amigo em  mim.

A gente se entende na nossa dor. E a vida só é real se compartilhada. Você ri ao pensar nas Claras e Leonardos da sua vida. Sempre existe algo de novo no pôr do sol.

Nunca mais vi Juliana, mas às vezes me pergunto se ela esteve aqui de fato. Sinto que é preciso ter cuidado pra não encontrá-la e viver tudo aquilo de novo.

Não dá pra viver de novo. Só dá pra olhar pras coisas com carinho.

Foi importante ser você naquela época. É maravilhoso ver como muita coisa de hoje já estava lá e boy, you still got it. 

Vai ser feliz, meu filho. Liberte-se