segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Wrada

Vocês leitores, se é que existem, podem comentar nos textos, eu não vou achar ruim não, prometo.

domingo, 25 de novembro de 2012

Gosto tanto de escrever que sinto um aperto na alma por ter de resignar-me à infelicidade de não poder fazer disso o meu sustento.

Rainha de Copas

Era um dia frio e chuvoso de domingo, e nossos planos de ir à praia haviam sido arruinados pelo mau tempo. Não havia muito a se fazer a respeito, por isso ficamos em casa e nos decidimos por fazer um almoço mais ou menos especial. Estava jogando video game na sala quando me convidou para ajudá-la na cozinha, que é tanto um exercício de criatividade quanto disciplinar - o motivo, portanto, de ter sido chamado. Ela me ofereceu uma cerveja, para que tivéssemos nossas típicas conversas que alternam entre profundos assuntos filosóficos e um simples 'bate-papo jogado fora'. Começamos então a caminhar pelos labirintos que são as discussões sobre os significados filosóficos ocultos das histórias infantis e contos de fadas. Como não podia deixar de ser, devido ao nosso característico histórico familiar, nos detivemos em "Alice no País das Maravilhas". Conforme discutíamos sobre nossos motivos pessoais para achar essa história extremamente interessante e deliberávamos sobre os significados dos personagens e acontecimentos a partir do ponto de vista da pequena Alice, eventualmente chegamos ao ponto em que eu lhe falei sobre a relação existente entre a Rainha de Copas e a mãe da garota. Ela riu ao perceber que a relação fazia sentido, mas manteve-se quieta, obviamente compreendendo a semelhança que eu havia sutilmente deixado transparecer com o nosso relacionamento. Mal sabia que seu apelido já era "Rainha de Copas" há alguns meses, desde que eu o havia carinhosamente atribuído a ela. Chegamos então ao final do livro, e eu recitei-o para que ela se lembrasse, quando a irmã de Alice indaga o que aconteceria à menina ao crescer e se esquecer do sonho. Dotada de sua crítica fina e aguçada, ela imediatamente rebateu:
-Certamente se tornou uma Rainha de Copas.
Notando minha nítida surpresa, ela sorriu e prosseguiu:
-É, meu querido. Toda Rainha de Copas foi Alice um dia.
Senti meus olhos marejarem diante daquelas palavras, e fui abatido por uma súbita onde de empatia. Ela era um ser humano, afinal de contas. Como eu.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

As Neves do Kilimanjaro

Trabalho de filosofia pra relacionar As Neves do Kilimanjaro com Rousseau, Hobbes e o resto da matéria


As Neves do Kilimanjaro é um filme de 2011 dirigido por Robert Guédiguian que se passa em Marselha, na França, e conta a história de um casal, Michel e Marie-Claire, com firmes ideologias políticas de esquerda, que se vê obrigado a lidar com situações difíceis ao contribuir para a condenação de um jovem, Cristophe, que assaltou sua casa. O filme traz à todo momento importantes discussões de valor ético e moral ao problematizar diversas questões. Uma delas se refere à culpabilidade do jovem, uma vez que ele se viu forçado a atos extremos quando foi demitido do emprego e não teve mais condições de sustentar os dois irmãos menores, por quem era responsável. A partir disso, pode-se fazer um paralelo com o que afirmava Jean-Jacques Rousseau em sua filosofia: o homem é naturalmente bom, mas está sob jugo da vida em sociedade, que o predispõe à depravação. Para Rousseau, o meio de restaurar esta bondade é a eliminação das desigualdades sociais, responsáveis por privar o homem de seu exercício de liberdade. No entanto, o filme procede em mostrar que mesmo após quitar suas dívidas e superar o "sufoco", Cristophe se reúne com um parceiro para organizar um novo assalto. Essa cena transmite um conteúdo um tanto pessimista, mais característico do pensamento de outro filósofo, Thomas Hobbes, conhecido por sua frase "o homem é o lobo do homem", que define os seres humanos como naturalmente agressivos e eternamente em conflito um com o outro enquanto disputam posses, de modo que as leis serviriam para regular e impedir a natureza humana. Porém, Michel nunca chega a saber sobre a proposta do segundo assalto, e após tomar conhecimento da situação em que o jovem se encontrava, arrepende-se por tê-lo acusado e causado sua prisão.
Este arrependimento provém da ética, o conjunto de limites e princípios que regulam as ações individuais dos seres humanos. É este mesmo sentimento que vai levar Michel, no final do filme, a adotar os irmãos mais novos de Cristophe e levá-los para morar consigo. Dessa forma, o filme apresenta também outra questão importantíssima: em que grau a consciência ética individual afeta o meio coletivo? Em que medida se relacionam ética e política? Um indivíduo pode escolher alfabetizar-se por acreditar que é importante, mas isso tem um impacto no meio social na medida que, por exemplo, há um trabalhador alfabetizado a mais disponível no mercado de trabalho. Portanto, ética e política se interligam o tempo todo, já que não há indivíduo que viva completamente isolado, e todas as ações individuais são ao mesmo tempo influenciadas por e influenciam o meio ao redor. Os valores e crenças de Michel e Marie-Claire tem também significados políticos, na medida que envolvem a saúde física, mental, educação e formação de outros dois indivíduos.
Porém, resta no final a dúvida. A decisão do casal em adotar as crianças foi, como diz Rousseau, derivada de uma bondade nata, de uma consciência social? Ou será que se aproxima mais do argumento de Hobbes, em que as vontades e ações são resultado das paixões e desejos egoístas do homem, tornando a adoção um ato egoísta levado pelo desejo do casal de se engrandecer perante outros por sua benevolência, pelo desejo de sentir-se bem com eles mesmos?