segunda-feira, 4 de junho de 2012

Academia

Havia sido um longo e quente dia. Estavam todos cansados, mas ainda havia uma hora e meia de aula, e nesse momento, a única solução era abaixar a cabeça e obedecer. Assim, saí de Santa Teresa às 3:40 da tarde para chegar no Cosme Velho às 4 e ter uma aula de inglês que duraria uma hora e meia, para depois, enfim, chegar em casa às sete. Certamente, um dia cansativo, mas teria de ser vivido, assim como muitos outros, pois não há botão de 'avançar'. Após a aula, caminhamos conversando, conforme o céu ficava cada vez mais escuro e a brisa suave balançava de leve as folhas das árvores. Apesar de minha boca naquele momento estar falando inúmeras palavras que pareciam interessantíssimas para quem as ouvia, minha mente vagava em outro mundo, em alguma outra história. Depois de finalmente me despedir das pessoas, pus-me a subir a rua, para encontrar minha mãe em sua academia e pegar uma carona até em casa. Ao chegar na academia, me deparei com a mesma cena de sempre: um monte de gente feia em suas tentativas pessoais de se exercitar. Como não poderia deixar de ser, a academia é repleta de espelhos, e as pessoas se olhavam neles, rastreando minuciosamente o próprio corpo, e o dos outros, é claro, a procura das menores e mais insignificantes imperfeições. À medida que andava em busca de minha mãe, obviamente, olhei-me no espelho, pois ainda há de ser encontrado ser humano que resista à tentação de se olhar no espelho quando vê um. A situação que vi, então, através do espelho, me chamou a atenção. Observava a mim mesmo, ao lado de todas aquelas pessoas velhas, feias, suadas, tentando desesperadamente manter um mínimo de boa forma e falhando terrivelmente na tentativa. Observei pessoas cansadas, com dor nas costas e suor escorrendo da testa, se degladiando no objetivo de chegar ao veredito de quem era menos asqueroso. Observei então, a mim mesmo novamente. E conclui que não há nada mais valioso no mundo do que a beleza e a juventude.

O sermão da Santa

Eu não posso dizer que conheço o seu sofrimento e sei exatamente pelo o que você está passando, pois não enfrentei sua situação. Eu só posso te pedir para resistir à sua sede por vingança, pois ela não trará paz alguma. Quando -certas coisas- aconteceram comigo, só o que pude fazer foi odiar a mim mesma por permitir que isso acontecesse. Depois, direcionei meu ódio à -ela-, pois acreditei no fundo do meu coração que ela era a culpada pelo meu infortúnio. Porém, um dia me ocorreu: Nada de bom viria de odiá-la e de lamentar o meu passado. Eu só poderia moldar o futuro e curar o sofrimento atual, das pessoas ao meu redor. A minha paz interior ainda poderia ser realizada nos meus dias, oferecendo auxílio a quem necessitasse. Nada de bom virá de arranhar feridas antigas. Não seja tola, e dê tempo ao tempo para curá-las. O ódio vai tentar te convencer de que o pecado a libertará, mas no final, você terá apenas a si mesma para odiar. Se você realmente deseja trazer paz a si mesma, viva sua vida para melhor, e não para vingança. Ódio e agonia não são motivos pra viver; esperança sim.