quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Untitled

Eu lia e relia as suas palavras, e a cada leitura meu coração palpitava mais rápido. Cada leitura era um novo teste de resistência para meus olhos, que acabaram por perderam a batalha e agora choram de forma tão desamparada e inconsolável. Eu nem sei o que dizer nesse momento. As minhas lágrimas estão borrando as minhas palavras, e por mais que eu tanto deseje, não consigo escrever nada decente. Jamais havia me sentido assim antes. Do fundo do meu coração que acreditei por tanto tempo ser frio e desprovido de qualquer empatia, você despertou coisas que eu havia há muito trancafiado e escondido nos recônditos mais profundos da minha alma. E agora estou aqui, confuso e sozinho, sem idéia alguma de como lidar com todos esses sentimentos que afloraram em mim. Pela primeira vez desde muito, muito tempo, eu estou verdadeiramente sem palavras. Nunca nos meus pesadelos mais sombrios isto havia acontecido. O único motivo pelo qual consegui escrever tudo isso foi que minhas lágrimas resolveram finalmente parar de cair, permitindo que eu pensasse e articulasse mais claramente. Isto apenas porque fechei a janela de suas palavras por enquanto como uma medida de precaução, pois no meio de minha angústia, temi sinceramente que meu corpo desidratasse. Acho que fechei apenas com a esperança de poder abrí-las de novo um dia, e sentir-me emocionado como há tanto tempo não ocorria. Levantei-me da cadeira e caminhei até o banheiro para me olhar no espelho. Me encarou de volta um rapaz de cabelo terrivelmente bagunçado, cujos olhos aflitos davam-lhe uma aparência nada atraente. No entanto, forcei ainda mais a vista, procurando desesperadamente em meu reflexo o que de tão bom você havia visto em mim. Rezei então para, o que quer que fosse, que você pelo amor de Deus não parasse de ver.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Dependência

No início, você tem medo. Fica inseguro se realmente deveria experimentar ou não. Aí as pessoas ao seu redor uma hora ou outra conseguem de alguma maneira mirabolante te convencer de que é muito bom e que você deveria tentar, e você acaba acreditando. Quando você prova pela primeira vez, a sensação que te dá é extremamente intensa. Você começa a suar, os seus batimentos cardíacos aceleram perigosamente, a sua pressão aumenta, você se sente eufórico, elétrico, como se fosse capaz de fazer qualquer coisa. Áreas do seu cérebro são ativadas sem que você tenha controle qualquer sobre isso, fazendo seu corpo reagir de maneiras diversas. Todos os dias começam a parecer que valem a pena, só pela simples oportunidade de conquistar aquela sensação de novo. Mas quando a onda inicial vai embora, você é tomado por uma torrente de sensações de angústia, cansaço, insônia e depressão. Na sua mente reina apenas um único pensamento compulsório: "Eu preciso disso de novo". Então você vai atrás da sua nova dose, e é sempre a mesma coisa. Você usa, fica nas nuvens e depois deprime. E você começa a acreditar que não há outra maneira de se sentir bem de novo. O seu comportamento fica cada vez mais auto-destrutivo, conforme você vai ficando mais resistente e precisando de doses cada vez maiores para causar os mesmos efeitos de antes. Afasta-se da família e dos amigos porque a sua nova obsessão é a única coisa que importa, considerando o resto como sendo superficial. Se você puder ter aquilo, apenas aquilo, a sua vida será completa, é o que você pensa. É aí que seu organismo começa a entrar em decadência numa espiral insana de procura desesperada daquilo que você acredita ser a única coisa capaz de lhe proporcionar uma miséria de sensação de bem-estar, mesmo que cada vez mais passageira. Quando você se dá por si, percebe finalmente que o vício já não possui o mesmo doce, ele sequer te faz se sentir melhor. Mas agora você já está sozinho e desamparado por ter achado que ele conseguiria satisfazer sua vida plenamente em todos os aspectos.
É... A cocaína e o amor são bem parecidos. Mas a cocaína pelo menos faz o favor de te matar -de verdade- no final das contas.

Tarde

Na sua vida, você pode morrer a qualquer momento, por qualquer motivo. O único problema, no meu caso, é que isso demora demais a acontecer.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Escolha sabiamente os seus modelos. Encontre as pessoas que tiveram a vida que você quer ter, descubra o que eles fizeram, e faça o mesmo. É esse o meu conselho.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

O monstro

Fuja desse monstro. À meia noite, ele levantou suas garras afiadas e elas brilharam à luz pálida do luar prateado. Eu corria, tentando desesperadamente despistá-lo entre os obstáculos que haviam se colocado entre nós, mas ele era obviamente mais rápido e mais forte, derrubando tudo em seu caminho com um poder assombroso. Eu já não conseguia ver o chão onde pisava, orientando-me apenas pela luz das estrelas no céu enquanto ouvia os galhos secos se quebrarem sob meus pés. Ele se aproximava ameaçadoramente. Já podia sentir o bater do seu coração junto ao meu corpo e o calor de sua respiração, conforme o cansaço ia tomando conta de meu organismo e as minhas pernas começavam a vacilar, fraquejando a cada passo que dava. Sabia que deveria fugir; fugir desse medo, dessa sensação que eu já conhecia, desse ser que insistia em se apoderar de mim com sua fome insaciável, seus desejos, seus instintos mais primitivos. Ele ia me devorar, lentamente, pedaço por pedaço, membro por membro, ia rir enquanto destruía meu corpo, se deliciar com o sabor do meu sangue. Não pude fugir. Ele me alcançou e, em um movimento, saltou sobre mim e me dominou por completo. Abriu a minha pele e, com a sua boca, rasgou as minhas entranhas, gargalhando com alegria maníaca enquanto caminhava satisfeito de volta para os confins de onde havia saído. O sangue pingava de sua língua, a minha carne ainda presa em seus dentes monstruosos, o meu gosto ainda fresco em sua boca. E ele exibiu com orgulho insano os restos de mim àqueles ao seu redor, como uma espécie de troféu, uma homenagem ao seu ego e símbolo de sua força. Fiquei então abandonado no meio da noite escura, sozinho, sujo, experimentando uma sensação de profundo vazio pela perda daquilo que havia dentro de mim. Sem coragem para ir até ele e pedir de volta, continuei ali sentado, sem o meu interior, esperando pelo dia em que ele se cansaria de mostrá-lo aos outros e viesse devolvê-lo a mim.

Repressão

Meu corpo e a minha mente inflamam com o ardor das palavras não-ditas, desesperadas pra encontrar um meio de ganhar voz e se manifestar. Mas o papel continua em branco.