quinta-feira, 11 de outubro de 2012

O monstro

Fuja desse monstro. À meia noite, ele levantou suas garras afiadas e elas brilharam à luz pálida do luar prateado. Eu corria, tentando desesperadamente despistá-lo entre os obstáculos que haviam se colocado entre nós, mas ele era obviamente mais rápido e mais forte, derrubando tudo em seu caminho com um poder assombroso. Eu já não conseguia ver o chão onde pisava, orientando-me apenas pela luz das estrelas no céu enquanto ouvia os galhos secos se quebrarem sob meus pés. Ele se aproximava ameaçadoramente. Já podia sentir o bater do seu coração junto ao meu corpo e o calor de sua respiração, conforme o cansaço ia tomando conta de meu organismo e as minhas pernas começavam a vacilar, fraquejando a cada passo que dava. Sabia que deveria fugir; fugir desse medo, dessa sensação que eu já conhecia, desse ser que insistia em se apoderar de mim com sua fome insaciável, seus desejos, seus instintos mais primitivos. Ele ia me devorar, lentamente, pedaço por pedaço, membro por membro, ia rir enquanto destruía meu corpo, se deliciar com o sabor do meu sangue. Não pude fugir. Ele me alcançou e, em um movimento, saltou sobre mim e me dominou por completo. Abriu a minha pele e, com a sua boca, rasgou as minhas entranhas, gargalhando com alegria maníaca enquanto caminhava satisfeito de volta para os confins de onde havia saído. O sangue pingava de sua língua, a minha carne ainda presa em seus dentes monstruosos, o meu gosto ainda fresco em sua boca. E ele exibiu com orgulho insano os restos de mim àqueles ao seu redor, como uma espécie de troféu, uma homenagem ao seu ego e símbolo de sua força. Fiquei então abandonado no meio da noite escura, sozinho, sujo, experimentando uma sensação de profundo vazio pela perda daquilo que havia dentro de mim. Sem coragem para ir até ele e pedir de volta, continuei ali sentado, sem o meu interior, esperando pelo dia em que ele se cansaria de mostrá-lo aos outros e viesse devolvê-lo a mim.

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