quinta-feira, 21 de setembro de 2023

 O que vale a pena fazer, mesmo que eu fracasse?

Assumir pra mim o exagero

Deleitar-me comigo

Buscar o prazer

Me arriscar, escolher, não viver


sábado, 16 de setembro de 2023

Poema

Você guarda as cartas de amor?

Toda vez que eu olho eu paro

Eu vejo

E me lembro da época em que as nossas diferenças não eram desequilíbrio, mas desculpa pra ficar mais perto e aprender com o outro.


Por não estarmos mais distraídos

Você se lembra de acordar e procurar esse calor? 

Hoje quando acordo com medo eu não choro.

Nem reclamo abrigo

sinto uma coisa sua que ficou em mim.

Impregnada no corpo, nas pedras, nas roupas

No perfume pela sala

nas cinzas das horas

Na noite voraz. 

Veloz.


Queria na sombra do olhar

Parar e com a mão desenhar

A tua voz que desce até mim

Queria ao som do verso me entregar

Mas o tempo urge

E preciso correr de novo


A uma hora dessas.

Por onde vagará seu pensamento?

domingo, 3 de setembro de 2023

À meia noite

Transar à noite é bom
Transar pela manhã diz coisas

E o café
É um passo além
Da embriaguez
dos tons azul-escuros

De manhã tudo
Ou quase tudo se vê

Eu vou te dar
O meu amor devagarinho
Deixar no corpo mais um pouco
Escoar o segredo

Varrer a areia das botas

Do Rio pra Recife
De Manaus pra Salvador
Cada pedaço de história
É um segredo pro ouvido

Existimos. 
A que será que se destina?
Por um amor que te faça cantar

terça-feira, 8 de agosto de 2023

Eu não sei dançar

Meus olhos se escondem onde explodem paixões. Eu escolho continuar vendo como um compromisso com o desejo.

Não é meu dever ser perfeito com o mundo, sou feliz quando me aceito. Me sinto mais bonito quando estou bem comigo, isso varia a cada olhar. Me sinto ao mesmo tempo mais cuidadoso e menos cuidadoso.

Faço uma limpeza, mas não jogo tudo fora e carrego parte da minha tralha comigo. Não existe casa 100% limpa, todo lugar tem sua coisinha. A matéria me ajuda a decidir, as possibilidades e limites que me oferecem o meu corpo, o outro, o mundo. Em movimento decido melhor o que é bom pra mim, como é linda a dança. Olhar pra trás ajuda a me ver, na medida em que assumo os "sim", me desprendo da necessidade da perfeição e busco o prazer na realização.

Respeitar o limite é importante, mas não sempre, o amor e o desejo fazem transbordar pra além do tempo. Tenho prazer quando fantasio, mas dentro do limite não se fala em invenção. Os limites podem ser flexíveis, fico feliz e me sinto aceito quando vejo você flexível pra eu passar. 

Os quartos escuros pulsam e pedem por nós. 

quarta-feira, 26 de julho de 2023

Do tipo ideal pra estragar todos os meus planos

Quero lamber as suas linhas onde elas fazem curvas. Você pede licença pra chupar, eu te boto pra mamar. Penetro nos seus olhos, tímido. Respiro suave no seu sensível, mordo seu pescoço com fome. Acendo todas as suas pontas e revivo o gosto, salivando.
Meu corpo arqueia procurando a sua boca, mordendo.

quinta-feira, 20 de julho de 2023

Foi mal

Revisitando sozinho os lugares em que morei com você, s(i)ento pra ver cada pedaço de memória ser levado pela correnteza até perder de vista. Restam os resíduos mais pesados, indegradáveis, sedimentos obscurecidos a compor a lama das profundezas.

Talvez o amor, todo ele, aquele que demos e aquele que quisemos dar, o que recebemos e não oferecemos, o amor que não recebemos. Talvez todo o amor desague no mar, tragado até se perder na imensidão dos alicerces da terra.

Pode ser isso que há, ter cada vez menos a oferecer de amor, na busca romântica pela solidão e pelo estoicismo de uma vida seca e imperturbada.

Eu queria mesmo é que você me visse de perto e dissesse que me quer, mesmo que só por um instante. E quando sua mensagem não chega, entendo a aridez de encerrar ciclos sem presença, companhia ou explicação suficiente daqueles que amamos, areia de felicidade varrida pelo vento, esperando que a decomposição sirva de adubo praquilo que virá, quando virá, se é que virá.

Então eu choro, tentando lidar com as dores sem querer destruir o mundo ou explodir por dentro, esperando que um dia o sertão vire a mar.

quinta-feira, 13 de julho de 2023

Saber não é sabor

Me conta sobre o seu sonho

Fala do que você gosta

Eu quero ver o brilho nos olhos


Eu quero sentir o pulsar da magia

Eu quero produzir beleza em nós

De leite e de mel, do corpo e do céu


Eu quero me fundir e sumir

Você não quer ser um comigo?


Eu não tenho medo da morte

Eu temo sim

A solidão e o fracasso

segunda-feira, 3 de julho de 2023

O amor?

"Se você estiver vindo pensando em me ver, não venha."


No auge do meu sofrimento pelo afastamento de vínculos amorosos, comecei a ler Tudo sobre o amor de bell hooks, por indicação do vínculo que se despedira de mim uma e outra vez.

Em trânsito motivado, entre outras coisas, pelo meu sentimento de escassez de amor, planejei uma visita de volta à cidade natal e me senti devastado pela realidade. 

Eu sentia que, se não era possível incluir o amor na dinâmica do dia a dia, eu poderia sonhar com ele, fantasiá-lo para um momento de refúgio ou de descanso. Tal como José, que havia retornado para Belém com sua esposa grávida, eu me senti dando à luz dentro do celeiro, um estranho na minha terra. Não encontraria o amor que eu buscava nos lugares onde havia aprendido a procurar. 

bell hooks conta que quando procuramos sobre amor, o mais comum é encontrá-lo nas músicas. Então eu ouvi músicas repetidamente, ouvia a mesma 10 ou 20 vezes ao dia, no fone de bicicleta, cantando em voz mais ou menos assim:

"Você precisava de mim

Pra sentir um pouco mais

E dar um pouco menos". 

Eu a ouvia como uma espécie de martírio, sofria cercado pelos fracassos do amor: "Você era só mais um cara na lista de contatinho", eu adicionava ao meu repertório. Estava triste e não tinha com quem falar sobre a tristeza. Então fui pesquisar, e escrever. Me curo y me armo, estudando (Abigail Campos Leal).

A primeira lição que recebi foi que ninguém nos ensina a amar, embora seja esperado que tenhamos boas experiências em nossas relações. Li que passamos a maior parte do tempo ocupados desfazendo vidas de danos causados pela crueldade ou pela negligência em relações nas quais não sabíamos o que estávamos fazendo. E então eu uivei, chorando pelas vezes em que me senti negligenciado e pensando nas negligências que ofereci a outros.

Tentando dar sentido para minhas experiências fracassadas no amor, é difícil não voltar pra mim mesmo como responsável ou culpado, por não ser perfeito o suficiente. Eu me perguntava qual o sentido "daquilo tudo" se eu não sabia como amar. O amor me ensinava ao mesmo tempo sobre avareza e generosidade, e eu sentia o calor no corpo aumentando a cada sentença. 

A segunda lição sobre o amor é a de que ele não existe. Se o amor não pode coexistir com o abuso e a negligência, é impossível pra mim traçar um momento na história em que fui amado. Tudo que eu tive foram pessoas projetando suas expectativas sobre mim, me imaginando em papéis que não posso exercer e ventilando frustrações pelos seus próprios desejos não comunicados. Hoje, mais inflexível diante dos acordos não declarados, assumindo aquilo que não aceito fazer, me vejo totalmente sozinho no amor, sem ninguém próximo pra conversar sobre isso. 

-X-X-X

Talvez a insustentável leveza de relacionar-se seja pesada demais pro encontro acontecer como puder ser.  


Eu moraria(ei) em mim pra sossegar (m)seu corpo de chorar. 

Tropical, Bruna Mendez

domingo, 25 de junho de 2023

Ouvindo os sussurros que o vento sopra na minha direção, crio uma história com os fragmentos pra saciar meu desejo por sentidos.

Às vezes você achou uma família que te ama do jeito que você gosta e está tão feliz que não tem tempo pra mais nada. Às vezes eu fiz merda e você ficou com raiva a ponto de não querer escrever mais pra mim. Às vezes não sei o que pensar e aos domingos isso dói, especialmente no finalzinho da tarde.

Às vezes me pergunto por que escrevo pensando em você, e em outras me pergunto por que não escrevo pra você. Então não me sinto no direito de remexer suas emoções te perguntando de uma forma profunda como estão as coisas. E por isso eu escrevo pra mim. 

E por isso eu danço pra mim. Então sei que o corpo entrega o que não posso dizer, e por um lado ainda espero que não seja tarde demais e você possa vir me ver um dia. Por outro lado...

domingo, 18 de junho de 2023

Como você fala de mim quando eu não estou perto?

Embora eu busque clarividência, não é possível encontrar correspondências exatas entre as coisas que eu sacrifiquei e aquilo que me abri pra receber em troca. 

Eu, que me pendurei por 60 dias nos galhos da árvore-mundo, me abaixei pra encontrar a sabedoria daqueles que transbordam as fronteiras. Gritando, eu conheci.

Curiosidade e desejo me movem a explorar, tatear os cantos obscuros, revelar o oculto no lampejo. Gravar no fundo dos olhos a memória da vida e estar presente pelos lugares que andei. Me atravessar e me refazer. Ninguém sai ileso da presença. 

O brilho não pede passagem, se impõe. E se eu não sinto que é, é porque não é.

A resposta sobre qual vida queremos viver não é necessariamente simples. Envolve em primeiro lugar uma percepção sobre autonomia que não é fácil de abordar. Em primeiro lugar porque a liberdade enquanto direito fundamental é negada a diversas formas de vida por conta de atravessamentos diversos. Frequentemente temos a impressão de que as condições são tão avassaladoras que o poder de escolha é tirado de nós. Simplesmente parece não haver alternativa.


Em segundo lugar porque a natureza contínua e transformadora da vida coloca em movência a resposta. Soterrados diante das possibilidades a escolha sobre o que fazer implica uma renúncia; mil vidas que não foram e nem serão vividas. 


No budismo o sofrimento vem do apego e da dificuldade de lidar com a impermanência das coisas. Mortes, distância, transformações e mudanças: algo com o qual estávamos acostumados não estará mais lá. 


Mas, não é o Orí de outra pessoa, e diante disso existe uma responsabilidade que não se pode transferir. Oxum lava suas jóias antes de lavar a cabeça de seus filhos.


Então o amor como gesto de cuidado é direcionado primeiro para si. E depois para o outro.


O que é esse auto cuidado? Falar consigo mesmo como se você estivesse dando apoio pra um amigo. E ter de fato amigos é importante pra fortalecer esse apoio. O amor próprio nos ensina algumas coisas, e o amor comunitário ensina outras.


Mas quem tem direito ao amor? Quem tem direito à autoestima? Foi triste dizer que estava indo embora porque o meu cuidado se tornou pesado e desequilibrado demais para suportar. 


A minha vida não pára por ninguém, eu disse. E num instante a fantasia de uma vida juntos se tornou fumaça, menos palpável, mais distante. E isso é algo que posso escolher. 


Posso escolher porque tenho os recursos pra isso. Posso escolher porque penso sobre a escolha, porque banco ela materialmente, porque banco ela emocionalmente. Essas são as condições, os custos. O processo de vivenciar isso tudo e sofrer. Sofrer, pra poder escolher.


Então o sofrimento pode afastar da escolha. Aceitando-o ou evitando-o, somos movidos pela relação com o padecer-se na forma mais comum, vulgar.

terça-feira, 6 de junho de 2023

Meh [15]

 7 anos depois.


Tanto tempo se passou, Tiago. Você viveu muitas coisas, e ainda tem as mesmas intensidades que sempre teve. Mas, é hora de se despedir. Não adianta tentar reviver a mesma história que já passou. A Julia não vai voltar, e mesmo que volte, já não vai ser a mesma. É preciso encerrar, e seguir em frente. Esse é meu conselho pra você.

Talvez a vida não seja como você tinha imaginado. Talvez você se sinta triste, sozinho ou perdido. Talvez esteja bem, o que é uma esperança e honestamente tudo que eu desejo pra você.  Quero que você saiba que você tem um amigo em  mim.

A gente se entende na nossa dor. E a vida só é real se compartilhada. Você ri ao pensar nas Claras e Leonardos da sua vida. Sempre existe algo de novo no pôr do sol.

Nunca mais vi Juliana, mas às vezes me pergunto se ela esteve aqui de fato. Sinto que é preciso ter cuidado pra não encontrá-la e viver tudo aquilo de novo.

Não dá pra viver de novo. Só dá pra olhar pras coisas com carinho.

Foi importante ser você naquela época. É maravilhoso ver como muita coisa de hoje já estava lá e boy, you still got it. 

Vai ser feliz, meu filho. Liberte-se

segunda-feira, 29 de maio de 2023

Vocema

Quero escrever com a voz, meter as palavras pra transbordar tipo fermento, derreter pelo chão e escorrer pelas frestas. Quero entrar em você de um jeito que a gente não sabia que dava. 

Corpo-engolidor que leva pras profundezas, onde a carne se funde pulsando em vida quente, voz ululante e abissal que serpenteia pelo seu ventre. Ler seu corpo com os dedos e a boca, sentirtu arquear e tremer. 

Faz o papel e sai do papel, me pede e me manda, me faz objeto do seu olhar de sentimento absoluto, devorador. 

Vem que eu tenho fome de tudo.

 

sexta-feira, 19 de maio de 2023

É preciso andar rápido e viver bem devagarinho. Assim tenho tempo de sentir tudo.

terça-feira, 16 de maio de 2023

Carta para Felipe

 Oi, amigo. Como vai?


Você deve estar se perguntando por que essa carta. A bem da verdade faz tempo que não escrevo. Sei que as coisas ficaram estranhas desde a última vez que falamos. 

 Eu me sinto envergonhado de tudo que eu sinto e às vezes é como se eu me rasgasse por dentro. Eu penso em tudo que eu podia ter feito diferente e se por acaso isso impactaria a situação de agora. Parece bobeira, eu sei. Você diria que sou só eu tentando controlar tudo. E teria razão.


Uma parte da saudade que eu sinto de você não cabe na sua pessoa, é verdade. Saber disso me deixa triste.


Parte da saudade que eu tenho é da família que eu tinha construído, da qual você fazia parte. 


Não é fácil reconstruir tudo "do zero" e me refazer, especialmente no meio dessa loucura que tem sido todo o resto. 


Mas, quero que você saiba que tô me esforçando pra ficar bem. 


Brota por aqui qualquer dia. Meu endereço tá no verso.


Te amo.

quarta-feira, 10 de maio de 2023

Ô, amigo...

E virou a cara pra mexer no celular. Como eu não parasse de chorar, girou o tronco mais um pouco, agora de costas pra mim.

Recolhi meu corpo e saí.


Eu me sinto intenso pra porra.

...

Saudade de ficar te abraçando.

Senti falta de não ter abraço nenhum pra me acolher na falta do teu abraço. 

quarta-feira, 3 de maio de 2023

P0rn2

Hoje senti vontade de sentir dor. Fiquei me esfregando na cama e imaginando alguém me macetando por trás, uma coisa grande e sem dó, só metendo e eu gemendo.

O que eu queria era alguém conhecido pra usar com segurança, alguém daqueles que o tesão grita quando você trisca no ombro ou encosta um dedinho. Sem precisar de longas conversas, um mínimo de cuidado e um máximo de desejo.

Me lembrei de Renato, que dizia muito tranquilamente se sentir atraído por rapazes de 15 anos. Ouvi isso a primeira vez e achei loucura, ele deu uma justificativa qualquer e a coisa ficou por isso mesmo. Num dia qualquer perguntei a ele por que todo sexo gostoso é problemático? Ele riu e não soube dizer.

Uma vez me apaixonei por 01 boy que era o pior de todos, e isso deixava ele perfeito pra me bagunçar todo. Era exatamente do que eu queria, caos e intensidade, loucuras e desmedidas. Eu nunca sentei tanto na minha vida, eu achava que era amor de pica, ele insistia em algo mais. Fizemos muita merda e e depois fomos embora; hoje o peito arde e inflama, lembrando do que era, desejando,  sentindo um pulsar que começa no cu e atravessa o períneo até a barriga.

Até eu tenho limites e pra esse não dá pra voltar mesmo podendo. Amanhã troco a roupa de cama.



quinta-feira, 27 de abril de 2023

 Eu não sei mais o que fazer com a minha dor, além de chorar, escrever e seguir em frente. São tantas desterritorializações, são tantas idas e partidas, que às vezes parece que é demais. 

Um fjorde gélido me separa de tudo que eu um dia conheci, e o pouco que eu tinha era tudo que eu tinha. É muita dor, é muita tristeza. Eu choro por tudo que eu perdi, e tenho medo das coisas que eu posso vir a ganhar.

Busco conforto em lugares antigos, dos quais me afastei porque não eram mais confortáveis. Tem coisas que eu não quero perder nunca, e que já foram perdidas desde quando eu as tinha por perto. 

Eu danço, e a vida gira e acontece. Tudo que eu sacrifiquei em nome do meu sonho, não pode ser em vão. Liberdade é pouco, o que eu quero ainda não tem nome. 

terça-feira, 11 de abril de 2023

P0rn

 Leitado.


Era só o que eu pensava enquanto o boy respirava forte na minha orelha. Não ligava de não ter gozado. A melhor sensação é ter alguém comendo seu cu e enchendo você de porra. 


Existe no nosso meio uma obsessão com a troca de fluidos, dos depósitos aos vitaminados, um fetiche de se encher do suco de alguém e sair pingando do rolê.


Até Sávio, que daqui do grupo fazia a mais preocupada com a saúde, gozou na hora que me ouviu dizer que ia encher ele de leite.

- Você sabe que é irresistível, ele reclamava. 

Sávio comia gostoso e minha amiga dizia pra tomar cuidado com os boy que sabe comer cu porque prende a gente. Dito e feito. Mas, ele também era cheio de medos e eu perdi dias da minha vida em postinho. Chegava lá de cara lavada contando a mesma história, até que a enfermeira - que deve ter me atendido umas três vezes - num meio esporro me disse pra tomar prep.


Eu não tava doido pra começar a tomar, mas teria evitado muita coisa.


A treta começou num rolê que fizemos, Sávio, eu e mais uma. A gata botou sem capa na gente, fez a sonsa, depois botou de novo e foi o maior bafafá. Sávio ficou puto e eu já não podia mais gozar em paz.


Me mudei de cidade e me afastei de Sávio, mas de vez em quando dá vontade do pau dele entrando. Penso nisso com alguns outros também, mas não dava pra pedir sem capa pra todo mundo, então ficou só entre os mais chegados. 


Conheci Gui no Grindr no dia seguinte que terminei de vez com Sávio. 


Foi muita troca e muita capa. O papo da prep veio e foi; no final das contas cada um fez 01 teste rápido e a parada começou a rolar entre a gente. Fizemo piada da camisinha que empoeirava no braço do sofá, embaixo da cama e no basculhante do banheiro, nossos lugares estratégicos. Gui era todo gostoso, mas não me avisava quando gozava e isso cortava um pouco a minha onda. Parte da graça é saber que a parada tá rolando naquela hora.


Um dia disse pra ele que não dava mais e me mandei. Ele apareceu na semana seguinte com marcas roxas no pescoço e no peito, com um papo de que quando estava mal se colocava em risco.


Continuamos nos encontrando durante um tempo sem transar, até que um dia a coisa esquentou. Pensei no gostoso da pele na pele e o pensamento me deu vontade.


O combinado de antes era falar se tivesse tido exposição e ele não tinha falado nada. Fiquei com medo e quis saber, mas não quis perguntar. 


- Quer dentro? Ele perguntou.

- Bota camisinha.


...

Ninguém tinha camisinha.



terça-feira, 21 de março de 2023

Auto escrita

 Como manter o outro perto? Mais interessante pensar em como ser feliz, responsável e cuidadoso. Relacionar-se ocupa tempo e energia, quanto mais perto, mais questões pra gerenciar.


Me pergunto o que você acha da gente, o que você acha de mim, exercito a confiança na minha própria parada. Me pergunto se você gostaria de estar em outro lugar com outra pessoa agora, me pergunto como te incentivar a ser autônomo, responsável e feliz.


Tenho vontade de puxar você pra perto e dizer "vem buscar em mim, vem ser feliz comigo", mas você tem o direito de não querer, ou não querer de mim, ou não querer agora. Você pode ser você, cabe a mim ser eu e buscar o que me satisfaz, mas é difícil conciliar isso com o cuidado coletivo e com o não individualismo. Me dá vontade de saber e participar, pra aplacar meu desconforto da possibilidade de ser rejeitado.


Tudo bem ser rejeitado, isso não diz do meu valor. Auto-estima não depende de ser desejado, mas sim de ser aceito, valorizado, respeitado.

domingo, 19 de março de 2023

Que despedida comprida ou Hoje eu não faço mais isso ou Planos e danos

É tanto! Uma cachoeira sem fim saindo dos meus olhos.

Não tem metáfora, não tem poesia, só o triste listar dos acontecimentos que insistem em machucar. 

Não tem alegria nas sombras das árvores, essas apodreceram e se projetaram lúgubres e velhas.

A árvore-mundo está morrendo, eu vejo as folhas caírem, eu vejo os animais mordiscando os ramos e brotos novos, eu vejo a madeira carcomida. O que vai ser quando ela morrer de vez?

No crepúsculo dos deuses os mares vão subir e fogo vai chover dos céus, até que um buraco no tronco se revele como abrigo pra vida. Alguma força restará pra defender a vida.

O abraço de quem me viu criança carrega o medo de soltar e sumir no mundo. 

Tentemo, amado. Agora não dá.

Vai ser feliz.




sexta-feira, 3 de março de 2023

Sobre idas e vindas

Fico às voltas com essa questão, sem chorar, as têmporas martelando, buscando perguntas, respostas, resumos, afirmações categóricas. Preencher o vazio com palavras, contornos.

A crise abala tudo que estava ali antes, provocando o que tem raízes fortes e profundas pra se manter de pé.

O encontro traz alegrias e tristezas, junto. O que configura um vínculo potável? A potencialidade, a abertura, não o enclausuramento. O equilíbrio, que não é a distribuição igualitária de momentos alegres ou tristes, mas a possibilidade de fluir, de acolher uns aos outros, de viver plenamente e de deixar ir também.

Só indo que eu entendi o que significa partir... e o que significa permanecer. Tempo-rei, ensinai-me o que eu ainda não sei.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

Cruzadas na encruzilhada

Não é possível estar presente sem ocupar espaço. Há ajustes, incômodos, investimentos, cuidados.

A semente soprada de vento limita-se onde se fincam raízes, que crescem de condições e não de intenções. Quanto mais profundas, mais firmes e mais estrago de se arrancar da terra, remexida.

A vida não para pelos outros, mas o destino se ramificou nas encruzilhadas uma e outra vez. Não é possível viver do mesmo; só quando se cruza, o caminho se enriquece do novo.

Que tendências apontam os caminhos que estão sendo trilhados?