quarta-feira, 26 de julho de 2023

Do tipo ideal pra estragar todos os meus planos

Quero lamber as suas linhas onde elas fazem curvas. Você pede licença pra chupar, eu te boto pra mamar. Penetro nos seus olhos, tímido. Respiro suave no seu sensível, mordo seu pescoço com fome. Acendo todas as suas pontas e revivo o gosto, salivando.
Meu corpo arqueia procurando a sua boca, mordendo.

quinta-feira, 20 de julho de 2023

Foi mal

Revisitando sozinho os lugares em que morei com você, s(i)ento pra ver cada pedaço de memória ser levado pela correnteza até perder de vista. Restam os resíduos mais pesados, indegradáveis, sedimentos obscurecidos a compor a lama das profundezas.

Talvez o amor, todo ele, aquele que demos e aquele que quisemos dar, o que recebemos e não oferecemos, o amor que não recebemos. Talvez todo o amor desague no mar, tragado até se perder na imensidão dos alicerces da terra.

Pode ser isso que há, ter cada vez menos a oferecer de amor, na busca romântica pela solidão e pelo estoicismo de uma vida seca e imperturbada.

Eu queria mesmo é que você me visse de perto e dissesse que me quer, mesmo que só por um instante. E quando sua mensagem não chega, entendo a aridez de encerrar ciclos sem presença, companhia ou explicação suficiente daqueles que amamos, areia de felicidade varrida pelo vento, esperando que a decomposição sirva de adubo praquilo que virá, quando virá, se é que virá.

Então eu choro, tentando lidar com as dores sem querer destruir o mundo ou explodir por dentro, esperando que um dia o sertão vire a mar.

quinta-feira, 13 de julho de 2023

Saber não é sabor

Me conta sobre o seu sonho

Fala do que você gosta

Eu quero ver o brilho nos olhos


Eu quero sentir o pulsar da magia

Eu quero produzir beleza em nós

De leite e de mel, do corpo e do céu


Eu quero me fundir e sumir

Você não quer ser um comigo?


Eu não tenho medo da morte

Eu temo sim

A solidão e o fracasso

segunda-feira, 3 de julho de 2023

O amor?

"Se você estiver vindo pensando em me ver, não venha."


No auge do meu sofrimento pelo afastamento de vínculos amorosos, comecei a ler Tudo sobre o amor de bell hooks, por indicação do vínculo que se despedira de mim uma e outra vez.

Em trânsito motivado, entre outras coisas, pelo meu sentimento de escassez de amor, planejei uma visita de volta à cidade natal e me senti devastado pela realidade. 

Eu sentia que, se não era possível incluir o amor na dinâmica do dia a dia, eu poderia sonhar com ele, fantasiá-lo para um momento de refúgio ou de descanso. Tal como José, que havia retornado para Belém com sua esposa grávida, eu me senti dando à luz dentro do celeiro, um estranho na minha terra. Não encontraria o amor que eu buscava nos lugares onde havia aprendido a procurar. 

bell hooks conta que quando procuramos sobre amor, o mais comum é encontrá-lo nas músicas. Então eu ouvi músicas repetidamente, ouvia a mesma 10 ou 20 vezes ao dia, no fone de bicicleta, cantando em voz mais ou menos assim:

"Você precisava de mim

Pra sentir um pouco mais

E dar um pouco menos". 

Eu a ouvia como uma espécie de martírio, sofria cercado pelos fracassos do amor: "Você era só mais um cara na lista de contatinho", eu adicionava ao meu repertório. Estava triste e não tinha com quem falar sobre a tristeza. Então fui pesquisar, e escrever. Me curo y me armo, estudando (Abigail Campos Leal).

A primeira lição que recebi foi que ninguém nos ensina a amar, embora seja esperado que tenhamos boas experiências em nossas relações. Li que passamos a maior parte do tempo ocupados desfazendo vidas de danos causados pela crueldade ou pela negligência em relações nas quais não sabíamos o que estávamos fazendo. E então eu uivei, chorando pelas vezes em que me senti negligenciado e pensando nas negligências que ofereci a outros.

Tentando dar sentido para minhas experiências fracassadas no amor, é difícil não voltar pra mim mesmo como responsável ou culpado, por não ser perfeito o suficiente. Eu me perguntava qual o sentido "daquilo tudo" se eu não sabia como amar. O amor me ensinava ao mesmo tempo sobre avareza e generosidade, e eu sentia o calor no corpo aumentando a cada sentença. 

A segunda lição sobre o amor é a de que ele não existe. Se o amor não pode coexistir com o abuso e a negligência, é impossível pra mim traçar um momento na história em que fui amado. Tudo que eu tive foram pessoas projetando suas expectativas sobre mim, me imaginando em papéis que não posso exercer e ventilando frustrações pelos seus próprios desejos não comunicados. Hoje, mais inflexível diante dos acordos não declarados, assumindo aquilo que não aceito fazer, me vejo totalmente sozinho no amor, sem ninguém próximo pra conversar sobre isso. 

-X-X-X

Talvez a insustentável leveza de relacionar-se seja pesada demais pro encontro acontecer como puder ser.  


Eu moraria(ei) em mim pra sossegar (m)seu corpo de chorar. 

Tropical, Bruna Mendez