segunda-feira, 3 de julho de 2023

O amor?

"Se você estiver vindo pensando em me ver, não venha."

No auge do meu sofrimento pelo afastamento de vínculos amorosos, comecei a ler Tudo sobre o amor de bell hooks, por indicação do vínculo que se despedira de mim uma e outra vez.

Em trânsito motivado, entre outras coisas, pelo meu sentimento de escassez de amor, planejei uma visita de volta à cidade natal e me senti devastado pela realidade. 

Eu sentia que, se não era possível incluir o amor na dinâmica do dia a dia, eu poderia sonhar com ele, fantasiá-lo para um momento de refúgio ou de descanso. Tal como José, que havia retornado para Belém com sua esposa grávida, eu me senti dando à luz dentro do celeiro, um estranho na minha terra. Não encontraria o amor que eu buscava nos lugares onde havia aprendido a procurar. 

bell hooks conta que quando procuramos sobre amor, o mais comum é encontrá-lo nas músicas. Então eu ouvi músicas repetidamente, ouvia a mesma 10 ou 20 vezes ao dia, no fone de bicicleta, cantando em voz mais ou menos assim:

"Você precisava de mim

Pra sentir um pouco mais

E dar um pouco menos". 

Eu a ouvia como uma espécie de martírio, sofria cercado pelos fracassos do amor: "Você era só mais um cara na lista de contatinho", eu adicionava ao meu repertório. Estava triste e não tinha com quem falar sobre a tristeza. Então fui pesquisar, e escrever. Me curo y me armo, estudando (Abigail Campos Leal).

A primeira lição que recebi foi que ninguém nos ensina a amar, embora seja esperado que tenhamos boas experiências em nossas relações. Li que passamos a maior parte do tempo ocupados desfazendo vidas de danos causados pela crueldade ou pela negligência em relações nas quais não sabíamos o que estávamos fazendo. E então eu uivei, chorando pelas vezes em que me senti negligenciado e pensando nas negligências que ofereci a outros.

Tentando dar sentido para minhas experiências fracassadas no amor, é difícil não voltar pra mim mesmo como responsável ou culpado, por não ser perfeito o suficiente. Eu me perguntava qual o sentido "daquilo tudo" se eu não sabia como amar. O amor me ensinava ao mesmo tempo sobre avareza e generosidade, e eu sentia o calor no corpo aumentando a cada sentença. 

A segunda lição sobre o amor é a de que ele não existe. Se o amor não pode coexistir com o abuso e a negligência, é impossível pra mim traçar um momento na história em que fui amado. Tudo que eu tive foram pessoas projetando suas expectativas sobre mim, me imaginando em papéis que não posso exercer e ventilando frustrações pelos seus próprios desejos não comunicados. Hoje, mais inflexível diante dos acordos não declarados, assumindo aquilo que não aceito fazer, me vejo totalmente sozinho no amor, sem ninguém próximo pra conversar sobre isso. 

-X-X-X

Talvez a insustentável leveza de relacionar-se seja pesada demais pro encontro acontecer como puder ser.  


Eu moraria(ei) em mim pra sossegar (m)seu corpo de chorar. 

Tropical, Bruna Mendez

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