domingo, 25 de novembro de 2012

Rainha de Copas

Era um dia frio e chuvoso de domingo, e nossos planos de ir à praia haviam sido arruinados pelo mau tempo. Não havia muito a se fazer a respeito, por isso ficamos em casa e nos decidimos por fazer um almoço mais ou menos especial. Estava jogando video game na sala quando me convidou para ajudá-la na cozinha, que é tanto um exercício de criatividade quanto disciplinar - o motivo, portanto, de ter sido chamado. Ela me ofereceu uma cerveja, para que tivéssemos nossas típicas conversas que alternam entre profundos assuntos filosóficos e um simples 'bate-papo jogado fora'. Começamos então a caminhar pelos labirintos que são as discussões sobre os significados filosóficos ocultos das histórias infantis e contos de fadas. Como não podia deixar de ser, devido ao nosso característico histórico familiar, nos detivemos em "Alice no País das Maravilhas". Conforme discutíamos sobre nossos motivos pessoais para achar essa história extremamente interessante e deliberávamos sobre os significados dos personagens e acontecimentos a partir do ponto de vista da pequena Alice, eventualmente chegamos ao ponto em que eu lhe falei sobre a relação existente entre a Rainha de Copas e a mãe da garota. Ela riu ao perceber que a relação fazia sentido, mas manteve-se quieta, obviamente compreendendo a semelhança que eu havia sutilmente deixado transparecer com o nosso relacionamento. Mal sabia que seu apelido já era "Rainha de Copas" há alguns meses, desde que eu o havia carinhosamente atribuído a ela. Chegamos então ao final do livro, e eu recitei-o para que ela se lembrasse, quando a irmã de Alice indaga o que aconteceria à menina ao crescer e se esquecer do sonho. Dotada de sua crítica fina e aguçada, ela imediatamente rebateu:
-Certamente se tornou uma Rainha de Copas.
Notando minha nítida surpresa, ela sorriu e prosseguiu:
-É, meu querido. Toda Rainha de Copas foi Alice um dia.
Senti meus olhos marejarem diante daquelas palavras, e fui abatido por uma súbita onde de empatia. Ela era um ser humano, afinal de contas. Como eu.

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