quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A árvore

Certo dia estava passeando por um parque ouvindo música, quando sentei debaixo da sombra de uma grande árvore, enquanto remoía pensamentos e lembranças. Naquele dia, minha vontade era somente ficar ali, debaixo da árvore, com a minha mente e a minha música, imperturbado. Obviamente, não era pra ser. "É mal de amor que você tem, meu filho" foi o que a árvore me disse. Perguntei então o que ela poderia sequer imaginar saber sobre o amor, além das marcas que os bêbados e os apaixonados deixaram em seu tronco. Ela então me disse que o amor era como ela, uma árvore. Que nascia de sementes distraídas brotando ao acaso, e que se também por acaso a morte precoce não as alcança, crescem e tomam força, fugindo do sol e se enraizando no fundo e no subterrâneo. Lá é onde está o que não se deve mostrar, as nossas fraquezas e nossos medos disformes, nossos defeitos e manias, as nossas vergonhas. Lá embaixo é a fonte das horas difíceis do amor, aquelas que ninguém quer ter ou lembrar. Os momentos de deleite são os galhos crescendo em direção a luz do sol, em busca do claro e do calor das boas horas do dia e, acima de tudo, em busca do perigo e da desventura.  É ali onde se revela o que há de melhor de nós, folhas verdes em formas de sorrisos e afagos. A copa da árvore é a boa ventura do amor.
Perguntei então à árvore se ela que tinha inventado essa história de amor e árvore. Ela respondeu que tinha sido obra de um poeta que, assim como eu, havia se sentado debaixo da sombra da árvore, e havia escrito algo mais ou menos assim. No dia seguinte, eu quis voltar ao lugar onde a árvore estava, na esperança de que a inspiração que atingiu o poeta me atingisse também. Ao chegar, me deparei com uma cena desesperançosa. A árvore havia sido cortada. Dei meia volta e caminhei silenciosamente pra casa, pensando no que ela havia me dito, sobre a copa e as raízes do fundo. Pensando que talvez, todo amor seria também um dia cortado, e só sobrariam as raízes, sepultadas em algum buraco escuro no fundo do coração de quem um dia amou. Balancei a cabeça, repudiando esse pensamento negativo. Pensei, então, que certas árvores vivem centenas de anos antes de morrerem.

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