quinta-feira, 21 de novembro de 2013

"Vamos pensar positivo!"

Fui andando por aquela rua arborizada sentindo uma brisa fresca contra meu rosto enquanto procurava o número 11. Toquei aleatoriamente um dos seis botões de campainha que ali estavam, e uma voz tornada rouca pelo interfone me disse para entrar. Atravessei uma porta de vidro e entrei por uma outra porta no que parecia uma típica sala de espera. Música de lounge tocando baixo, ventilador fraco girando lento, sofá amassado na parede, revistas variadas espalhadas pela mesinha de centro, pequenos quadros tortos pendurados na parede. Ansiedade e batimentos cardíacos ligeiramente acelerados. Passando a mão excessivamente no cabelo e batendo as unhas ritmadamente no braço de madeira do sofá. De repente, tirando-me de meus pensamentos, uma mulher de baixa estatura chamou por meu nome. Ela tinha o cabelo castanho-claro preso em um rabo de cavalo e usava jeans azul e blusa branca. Devo confessar que à primeira vista, certamente não fui com a cara dela. Ela observava com olhos vagos de peixe morto e tinha um rosto que não se esperava de alguém com o trabalho dela. Acabei relevando, visto que o sorriso e a doçura em sua voz fizeram com que me sentisse menos desconfortável. A moça peixe-morto me conduziu até uma sala no interior da casa, onde sentamos e ela me fez a mais típica das perguntas de primeiros dias. Por trás de seu estoicismo, vi acender em seu rosto uma faísca de interesse, e concluí que minha resposta a havia satisfeito, embora não fosse essa a minha intenção inicialmente. Continuamos a conversar e ela acabou constatando sua admiração pela minha determinação e otimismo de estar lá por conta própria. Me pareceu um tanto ridícula uma admiração superficial como essa, para ser sincero. Aquela mulher definitivamente não tinha noção de com quem estava lidando. Mas então ela fez um comentário afiado e certeiro que me pegou desprevenido. Fiquei sem reação por alguns segundos, em choque com a obviedade do que me havia sido dito e com a minha aparente alienação em relação a isso. Pelo visto, o olhar vago e vazio daquela mulher enxerga coisas que o olho normal não vê! Notando a minha óbvia surpresa, ela apenas se limitou a sorrir silenciosamente de orelha a orelha, como quem dissesse que eu inevitavelmente tornaria a vê-la naquela sala.

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