A noite instaurada é sombria, e nem a lua ousa manifestar sua luz prateada. O céu escuro é lenta e completamente recoberto por soturnas nuvens negras, que se instalam em toda a vista da minha varanda como maus agouros. Não passa muito tempo e logo desabam do céu gélidos pingos grossos de chuva, que molham a terra fresca e atraem sapos e rãs cujo croar passa a ecoar na madrugada. No entanto, o som é breve, e tanto o ruído da chuva quanto o dos anfíbios logo cessa, deixando-me novamente no mais profundo silêncio. As horas voam enquanto o sono continua a me escapar da mão, acuado com os pensamentos que conseguem abrir caminho para dentro de minha cabeça. Perdido e sozinho na escuridão, só consigo perguntar que teria feito eu para merecer isto.
O desejo que brotava de meu âmago era abrir a porta de vidro e esperar que a chuva caísse sobre mim, levando consigo toda a negatividade junto desses sentimentos ruins. A Razão, no entanto, me puxou para a realidade, me alertando que tomar chuva antes de dormir quando se tem aula no dia seguinte não seria um ato prudente. Minha Razão se recusa a assimilar a ideia de que algumas coisas estão simplesmente fora de seu alcance. A tristeza que não me abandona, por exemplo, e os sussurros que ecoam no escuro quando estou sozinho. Pois embora eu tente não pensar no que o futuro irá trazer, o medo volta a me assombrar e não consigo afastar a sensação de que o pior está por vir. Mas se pelo menos...
...Se pelo menos você soubesse como me sinto!
Indesejada, a Razão persiste em interferir em assuntos que não lhe dizem respeito, e me diz que não tem sentido se arriscar em um jogo que já foi perdido. Ela não entende que na verdade eu queria fingir, ainda que fosse só por um momento. Só por um instante, queria não saber as coisas que imagino, e poder aproveitar cada segundo antes que isso tudo se acabe. Eu queria acreditar, por mais rápido que fosse. Te dar um abraço apertado, te beijar no pescoço e falar baixinho no seu ouvido que sei que vamos dar certo e que somos perfeitos um para o outro. Mas, mesmo eu sei que isso tudo são só mentiras sem sentido. Tentativas idiotas de ver se consigo te trazer de volta pros meus braços saudosos. Já é uma aposta perdida, me diz a Razão. Você e eu nunca seremos nós...
Talvez minha Razão tenha razão. Talvez eu devesse ir dormir agora, na esperança de conseguir no sonho aquilo que a realidade me nega. Talvez as coisas tenham que ser assim mesmo. Talvez você só me ame mesmo como amigo. Acontece que no fundo, eu ainda quero ter esperança. Quero acreditar que podemos ser felizes juntos, e que esses pensamentos ruins são só coisa da minha cabeça. Quero acreditar que você realmente quer estar com... com alguém como eu. Mas eu tenho medo do futuro. Tenho medo do que ele leva embora, e do que ele pode trazer. E me pergunto se algum dia, juntinho do meu amor eu vou poder viver...
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