sábado, 25 de janeiro de 2025

Joedson

Sempre fui uma cadela.

Não, não me entenda errado. Pega a visão.

Na rua eu andava de bermuda tactel, riscado na sobrancelha e relógio na mão. Nem sempre passava como bicha. Também botava boné e marra na cara, pros novinho saber que eu gosto é de empurrar.

Mas, quando eu pensava em fuder no escuro, no beco ou na praça, na minha cabeça era sempre eu fodido por um pau grosso cheio de tesão e de leite.

Pelo meu tesão eu fudia 2, 3 vezes no dia. Fudia em casa, na cama, no sofá e no chuveiro. Nunca tinha fudido na rua porque tinha cagaço de apanhar, de pegar alguma coisa, de morrer. Mas eu via os cara no escuro, entre uma árvore e outra, segurando a rola. Via os maluco ajoelhar e depois virar de costas, ouvia eles pedindo no som do plec plec plec.

- Leita.

Eu ficava doido.

Lá em casa sempre foi de boa. O piorzinho era mesmo eu, que vendia id falsa pros menó e aliciava novinho pra liberar o cu pra mim. Irmão, amiga, ficante, professor, primo, ninguém ficava de fora não. 

Mas infelizmente fuder demora porque eu curto fazer na moral e leva um tempo pra chegar lá. Tem uma parada com meter olhando no olho, tu vê aquela boca carnuda cheia de sangue pedindo mais, aí tu dá mais e mais e é aquela pira. 

Fora que. Passar o dia em fila de posto pra tomar injeção é foda, e eu não queria mais isso não. Agora com esses porra de comprimido a parada tá menos tensa, mais suave mesmo não tá.

Esses dias tava na seca e abri o aplicativo pra arrumar o que comer. Já tinha pedalado, malhado, pulado no mar e nada tirava essa fome de mim.

Era uma agonia, um desespero como se eu precisasse arrancar minhas tripas pra fora.

Aí era meia noite e veio esse maluco.

Pretinho, com roupa de academia, mais velho um pouco. Me perguntou até quando eu tava na cidade. Disse que dava tempo de se apaixonar e que curtia um lovezinho.

Eu ri.

- Curte o que você?

- Eu curto perigo, respondi.

- Sou ativo gosto de meter gostoso. Queria um cuzinho pra encher de leite.

Só de lembrar meu peito já pulsa. 

- Eh bom eh bom, mas pera lá.

- Você pediu perigo ué

Eu quero vem me leita, porra.

- Bora no ***

Marcamos.

Não fui.


quarta-feira, 22 de maio de 2024

Retalhos da perda

Cansei. Quero paz de espírito. Prefiro não transar todo dia ou não transar garantido. Prefiro não me perguntar a todo momento se o meu desejo te deixa incomodado, ou precisar escapar pra realizar ele. Prefiro ser sozinho e não dar satisfação.

Eu não posso te fazer feliz.


Jacson tinha me evitado o mês inteiro e, da última vez em que nos vimos, ele pediu pra dormir comigo, embora a ideia me fizesse nervoso. Não era tanto sobre o tempo que vivemos juntos. Mas sim sobre tudo que vivemos juntos nesse tempo. E dentro de todos os altos e baixos, eu tinha decidido que precisava virar a página. Eu estava indo embora. 

E eu entendo o quanto dói a sensação de que "essa pessoa não vai ficar", e por isso entendo que ele não tenha querido me ver depois disso. Mas, hoje acordei com a saudade de uma foto antiga, e não tive espaço pra chorar sua perda. Ninguém aqui conhecia Jacson, ou sabia quem ele tinha sido. Eu pensava no que faria caso o visse de novo, e embora não me sentisse nervoso, sentia sim, vontade de chorar. De dor. De solidão. 

E apesar dele antes estar sempre procurando um motivo para ficar, quando chegou a hora da partida, não ficou muito tempo pra se despedir. 


Abri a porta da geladeira de novo e de novo, me despedindo de todas as pequenas coisinhas que fizeram eu me apaixonar por você. Eu chorava no sofá rezando pra minha amiga de casa acordar e vim me perguntar se estava tudo bem.

quinta-feira, 21 de março de 2024

Cadê os refrescos?

Necessito de atenção, carinho, mimos. Nada de cuidado silencioso, verbalizado, ouvido, perguntado.

 Estar em relação é igual não estar, só que estando.

Às vezes eu preciso de descanso. Tentei marcar uma aula extra de pole dance e fiquei frustrado por não conseguir. 

Talvez eu precise só celebrar mais as minhas vitórias. E nesse sentido acho que tenho vivido experiências bem significativas. Eu não sei se isso é bastante, nos parâmetros universais; mas eu acho que é bastante nos meus. 

Dei aula na graduação. Como é difícil aprender os nomes de todo mundo. Como eu tenho tido problemas com nomes. Eu sempre penso: "tá, eu vou me esquecer depois".

Eu gosto de criar. E tenho pouco tempo pra criar um capítulo da minha dissertação. Sinto vontade de criar RPG, coreografia, criar problemas.

"Como você acha que ela reagiria?"

Sinto vontade de reviver toda a minha história. Sinto vontade de me ouvir falando, porque acho que, de uma forma geral, não me sinto ouvido. Ou eu nunca me sinto bem de estar falando com alguém, como se eu precisasse me esforçar pra deixar a minha história interessante e talvez captar a atenção. 

Se meu estilo é o espetáculo que eu quero expor. Em que momento vamos pra trás das coxias?

Vergonha. 

Queria que alguém me ouvisse pra me servir um café e me dar um ombrinho, pra dizer: descansa aqui um pouco. 

x-x-

Em que medida a felicidade participa das decisões da vida? Uma vida feliz é o que queremos? 

Eu preciso escapar,

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

 O que vale a pena fazer, mesmo que eu fracasse?

Assumir pra mim o exagero

Deleitar-me comigo

Buscar o prazer

Me arriscar, escolher, não viver


sábado, 16 de setembro de 2023

Poema

Você guarda as cartas de amor?

Toda vez que eu olho eu paro

Eu vejo

E me lembro da época em que as nossas diferenças não eram desequilíbrio, mas desculpa pra ficar mais perto e aprender com o outro.


Por não estarmos mais distraídos

Você se lembra de acordar e procurar esse calor? 

Hoje quando acordo com medo eu não choro.

Nem reclamo abrigo

sinto uma coisa sua que ficou em mim.

Impregnada no corpo, nas pedras, nas roupas

No perfume pela sala

nas cinzas das horas

Na noite voraz. 

Veloz.


Queria na sombra do olhar

Parar e com a mão desenhar

A tua voz que desce até mim

Queria ao som do verso me entregar

Mas o tempo urge

E preciso correr de novo


A uma hora dessas.

Por onde vagará seu pensamento?

domingo, 3 de setembro de 2023

À meia noite

Transar à noite é bom
Transar pela manhã diz coisas

E o café
É um passo além
Da embriaguez
dos tons azul-escuros

De manhã tudo
Ou quase tudo se vê

Eu vou te dar
O meu amor devagarinho
Deixar no corpo mais um pouco
Escoar o segredo

Varrer a areia das botas

Do Rio pra Recife
De Manaus pra Salvador
Cada pedaço de história
É um segredo pro ouvido

Existimos. 
A que será que se destina?
Por um amor que te faça cantar

terça-feira, 8 de agosto de 2023

Eu não sei dançar

Meus olhos se escondem onde explodem paixões. Eu escolho continuar vendo como um compromisso com o desejo.

Não é meu dever ser perfeito com o mundo, sou feliz quando me aceito. Me sinto mais bonito quando estou bem comigo, isso varia a cada olhar. Me sinto ao mesmo tempo mais cuidadoso e menos cuidadoso.

Faço uma limpeza, mas não jogo tudo fora e carrego parte da minha tralha comigo. Não existe casa 100% limpa, todo lugar tem sua coisinha. A matéria me ajuda a decidir, as possibilidades e limites que me oferecem o meu corpo, o outro, o mundo. Em movimento decido melhor o que é bom pra mim, como é linda a dança. Olhar pra trás ajuda a me ver, na medida em que assumo os "sim", me desprendo da necessidade da perfeição e busco o prazer na realização.

Respeitar o limite é importante, mas não sempre, o amor e o desejo fazem transbordar pra além do tempo. Tenho prazer quando fantasio, mas dentro do limite não se fala em invenção. Os limites podem ser flexíveis, fico feliz e me sinto aceito quando vejo você flexível pra eu passar. 

Os quartos escuros pulsam e pedem por nós.