Senti-me subitamente submerso quando ele se aproximou. Sol brilhando quente durante a pré-primavera, madeira rígida sob minhas costas, chumbo sobre meus ombros. Meu coração acelerando à espera de notícias amargas que já previra, enquanto olho no fundo dos seus belos olhos amendoados e observo em seu reflexo minhas tão óbvias incertezas. Como vento seco, sopraram efêmeros momentos eternos de hesitação, até que comecei a ouvir as piores notícias vindas dos seus doces lábios. A verdade é sempre amarga para aqueles que a temem. Lenta, mas definitivamente, meu corpo foi se desmilingüindo aos poucos até escorrer pela mesa. Você saiu, deixando flores de palhaço na poça do que restou de mim. Sem opção, atado por auréolas inversas, me recompus e comecei a escrever a única coisa que havia sobrado: mosaicos de lembranças roubadas, feitos de areia fina. Memórias agridoces de toalhas divididas e dias ensolarados, portas fechadas e horários de saída, celulares durante a madrugada, descobertas e sentimentos correspondidos, e alguns refrões feitos de suspiros. Lamentei pelo passado e culpei a lembrança, que tentou fugir do agora pra acontecer de novo e não conseguiu. Jamais quis perdê-lo, mas sabia que o perderia...
Perseguir um passado para o qual não se pode mais voltar... No final das contas, talvez seja esse o destino de nós, que nascemos com um coração.
Para quando você gostaria de poder voltar...?
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