segunda-feira, 1 de julho de 2013
Madrugada
Não fecho os olhos, e permaneço na escuridão à espera do sono que nunca vem. Observo estrelas antigas de sonhos passados despencarem do céu solitário em direção ao esquecimento. Vejo um córrego e repousando sobre ele, as esperanças boiando nas águas estagnadas, corpos ao léu deixados ao capricho dos ventos frios. O som das folhas das copas dos salgueiros se movendo mimetiza o de ondas se chocando contra a costa, enquanto nuvens negras se juntam e recobrem o luar pálido e prateado. Cerro meus olhos e espero pela chegada da luz ofuscante do raiar do dia. Que pensamento triste este que clama pelo nascer do sol. Fraco, rastejo para fora da cama e procuro o depósito cintilante de dores engarrafadas. Me sirvo de uma taça de luz estrelar líquida e lágrimas angelicais, ao som de Erik Satiè girando no toca-discos. Um brinde ao casal e ao fim de meus sonhos infantis. Sinto o gosto amargo de corações partidos deslizando pela minha garganta numa tentativa de apagar minhas lembranças do Ontem; só a solidão me conhece Hoje. Onde está a paz nestes sonhos inquietos? Incapaz de retornar à serenidade de pensamentos, preso entre a necessidade e desconfiança. Adentro as trevas amedrontadoras e sigo sem raízes em meio à noite, murmurando as mesmas velhas notas. As nuvens ameaçadoras a velejar pelo céu finalmente despencam em lágrimas sobre mim, num consolo ao meu lamento. Assim, continuo aqui, debaixo da chuva. Desde então rezando para que as gotas sagradas consigam afogar as chamas que ainda queimam por ela.
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