terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Livre

Minha mãe me manda estudar. Ela diz que ela estudou por vários anos, depois fez pós graduação, fez psicologia, fez terapia reichiana. Diz que meu pai recentemente voltou a estudar, passou em primeiro lugar no mestrado, trabalhou por vários anos antes, estudou muito também, foi residente. E eu. Eu, que tenho um 'ambiente familiar estável, sem nenhuma grave questão emocional, praticamente sem brigas na família, com privacidade e tranquilidade pra estudar.' Ela diz que eu me dedico pouco. Ela diz que eu estudo pouco e só na véspera da prova. Comenta que eu durmo em todas as aulas. Que eu esqueço o livro da prova do dia seguinte na escola. Que eu vou pra praia quando devia estudar. E que eu devo ser muito, mas muito inteligente pra tirar as notas que eu tiro, com esse mínimo de dedicação. Não que eu esteja dizendo que minha mãe não me aprecie, ou não fique satisfeita nunca. Não é essa a questão. A questão é que... pra que eu vou me dedicar, se não me dedicando eu já tiro notas boas? Pra que vou gastar vários anos da minha vida estudando, quando eu posso ficar com os meus amigos, namorar, me divertir. Eu não vejo brilho nesse tipo de vida. Não vejo graça. Eu iria estudar a vida inteira, me dedicar à isso, e aí... o quê? Ia ser financeiramente estável, teria um emprego respeitável, sustentaria os meus irmãos que decidiram fazer o que tiveram vontade. Mas eu não seria feliz. Não seria feliz vivendo assim. Acharia que seria um desperdício de toda a minha adolescência se eu me dedicasse ao estudo. Tem tantas coisas mais importantes na vida do que razões trigonométricas. Tem tantas coisas que deveriam ser priorizadas. Ter uma boa relação com as pessoas. Amar à cada esquina. Ser uma pessoa com caráter. De que adiantaria eu ser um gênio arrogante? Ter um trabalho que dê dinheiro, e não ter experimentado a paixão? Porque essa sociedade têm valores tão deturpados que precisamos de dinheiro pra viver, e o resto é considerado lixo. Quem resolve virar massagista, é 'um preguiçoso que não quis estudar'. Quem se diverte conversando com os amigos na aula, 'não quer nada da vida'. Quem não faz os exercícios de matemática junto com o rebanho, 'é um vagabundo'. Quem criou esses valores? Que tipo de pessoas masoquistas criaram um mundo com esse tipo de valor, que gera tanta infelicidade? Eu prefiro focar na vida. A vida no sentido original da palavra. Não aguentaria viver num escritório ao redor de quatro paredes e seguindo ordens. Quero viver a vida do jeito que me dê na telha, não do jeito que minha mãe, ou qualquer outro ache certo. Quero viajar pelo mundo com uma mochila. Ter contato com pessoas, ficar longe desse tipo de sociedade. Longe dessas coisas que são tão banais pra mim. Ser livre.

3 comentários: