-Existe algo a mais que você precisa fazer. Mas você jamais conseguirá avançar antes de acertar as contas com seu passado.
-Acertar as contas!? Como assim? Achei que tivesse abandonado meu passado! Ele todo!
-Não há como abandonar o passado. Cada passo deforma o sapato em algum pequeno detalhe e, portanto, molda o passo seguinte, e assim sucessivamente. Seu passado está sempre sob seus pés. Não é possível fugir, se esconder ou se livrar dele, mas é possível chamá-lo de volta e fazer as pazes com ele. Você está disposto a isso?
Hesitava, mas sabia que o outro estava certo. Haviam certas memórias difíceis de serem revividas, memórias que causam vergonha, arrependimento ou raiva. Sabia que o acerto de contas jamais fora realmente feito, e era necessário para que pudesse seguir em frente. Subitamente, sentia o chão tremer e via brotar das rachaduras os antigos Eu, incluindo aqueles que não provocavam nenhum orgulho. Pela primeira vez, os encarava, e percebia que não eram nada a temer. Eles foram eu, há tempos, não mais. Conforme percebia isso, perdoava os antigos Eu pelos erros que cometeram anteriormente que causaram incômodo ou desconforto, e por sua vez, eles também perdoavam por não ter prestado atenção às lições que tinham a me oferecer. Chegado um entendimento entre Eus, eles começaram a subir pelos céus e desaparecer, permanecendo apenas como memórias e experiência, mas não mais contendo nenhum poder sobre o presente. O próximo passo era, agora, possível.
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