quarta-feira, 4 de maio de 2011

Apatia

A luz da velha e fraca luminária retorcida era a única coisa a se ver em meio à escuridão fria da noite. As grandes nuvens negras impossibilitavam a passagem de qualquer resquício de luminosidade que a lua poderia sequer imaginar transmitir à rua. O vento frio vindo do mar balançava as frágeis e esfarrapadas cortinas brancas de pano, fazendo-as lançarem sombras na parede. A cadeira carcomida de madeira rangia, quase cedendo ao peso da figura curvada sentada sobre ela. Demorados e longos movimentos rabiscados eram quase incapazes de quebrar o silêncio, cujo desejo era manter-se ali acima de tudo. O ser cansado era o poeta. Cansava-se de tudo. Da pressão exercida pelas expectativas de pessoas. De seres infinitamente desagradáveis se dedicando a falar e falar por horas a fio. Cansado da falsidade, da inveja e da energia negativa. Da náusea e do enjoô durante o dia. Da insônia e da enxaqueca durante a noite. Cansado de sentir-se cansado todos os momentos de sua vida. Cansado do tempo bastardo que desliza como grãos de areia por entre os dedos. Cansado da comodidade. De ter de fazer coisas impostas a ele sem que ninguém se perguntasse o que poderia passar por sua cabeça. Cansado de laços desatados por simples inércia. Cansado de ter que se conformar. Ter que se acostumar. Exausto da falta de significado. Farto de "a vida é assim mesmo". Se a vida é assim mesmo, então talvez, só talvez, as coisas possam ser diferentes. Se a vida é realmente assim mesmo, talvez para aquele ser cansado e curvado sobre sua escrita, o melhor na verdade seja...

Um comentário:

  1. Maravilhoso texto!
    Também me sinto assim em alguns momentos, e saber que compartilhamos esse sentimento me acalma a alma...
    Beijos muitos!

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