segunda-feira, 28 de março de 2011

Meh [2]

-Continuação-

O sol já estava se pondo quando saí. Centenas de adolescentes iam de encontro aos pais que os esperavam com a porta do carro já aberta. Alguns outros se reuniam e iam a pé. Era um dos poucos que caminhava sozinho. Mas pouco importava. Ficar sozinho já não era mais um problema. Peguei o caminho em direção à praia. A distância era um tanto mais longa, mas a jornada era mais prazerosa. Andando pela rua da praia, observava o contraste entre as paisagens. À direita, um labirinto de prédios erguia-se em direção ao infinito, manchados pela cor triste e monótona do cinza. Gente era vista nas janelas. Gente alheia à qualquer um dos significados reais de qualquer coisa. Gente com o rosto transbordando de ignorância e superficialidade. Simplesmente Gente. Daquelas que vemos todos os dias na rua passando pela nossa frente. É Gente. Não chegam nem perto de serem pessoas.
À esquerda, a praia. O sol se punha atrás do mar, tingindo o céu ao redor de vermelho. O mar, calmo e sem ondas, dedicava-se unicamente à refletir a luz do sol, duplicando sua beleza. Na areia, algumas poucas pessoas ainda se davam conta da verdadeira maravilha que é um pôr-do-sol, enquanto as outras iam embora sem olhar para trás. A brisa do mar balançava calmamente as copas dos coqueiros, que lançavam suas sombras em meio à calçada. O caminho era tranquilo. Até que num súbito olhar, tão rápida quanto um lance de vista, ela passou pela minha frente. Congelei. Nada pude fazer enquanto ela andava com passos leves e rápidos diante de mim, até dobrar a esquina. Julia...?
Despertando de repente, comecei a correr em sua direção o mais rápido que pude, e entrei na mesma rua. Onde estaria? Olhei para os lados, aflito, com o coração disparando. Não podia perdê-la de vista. Foi então que, de longe, a vi novamente. Ela seguia reto pela rua longa e descuidada, onde latas de lixo se encontravam caídas na frente dos prédios. Não havia tempo a perder. Comecei a correr. Não sei exatamente por quanto tempo corri, pois a cada passo que dava, parecia-me que o caminho se distorcia numa tentativa de ficar mais longo. Só sei que quando parei, logo atrás dela, o universo parecia ter mudado completamente ao meu redor. Já estava de noite, e a rua estava deserta. A escuridão parecia comprimir o meu corpo em todas as direções, provocando uma sensação claustrofóbica. Uma ligeira falta de ar. O frio, até então despercebido por conta da correria, começava a dar sinais de presença, gelando meu nariz e fazendo fumaça sair de minha boca ofegante à cada respiração. Ela ainda se encontrava na minha frente, andando, calma e alheia a tudo. No momento em que dei o primeiro passo, no entanto, me bateu, como um turbilhão repentino em um mar sem ondas. O que estava fazendo ali? Perseguindo pela rua uma garota já morta? E mesmo que por uma brincadeira de mau gosto do destino estivesse viva, de que adiantaria? O que faria? O que diria? Ela se lembraria? Diria que estava bem? Que sentia saudades, mas que havia fingido a própria morte? Mas será que não estaria sendo otimista demais...? E se não for ela? Teria corrido durante horas à toa? Teria tido um falso lampejo de esperança, agora prestes a ser esmagado como poeira? Como se nunca houvesse existido? É inútil. E depois de instantes inacabáveis estando ali, parado, me virei de costas e comecei a andar. Não poderia haver mais nada pra mim ali.

6 comentários:

  1. bubu* além de ser morta por um carro ainda vou virar um fantasma? LEGAL vo ti assombrar a noite matheus, se prepara :DD

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  2. HSUAHUUHSAHAUHA, dá pra parar de tirar conclusões precipitadas? essa história não vai ter nada de sobrenatural

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  3. Não são pessoas, apenas gente... hahahaha
    te amo muito hehe

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  4. aaaah!!! gente, nao pessoas!!!eu lembro disso!-katarina diz

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  5. poooxa, que legal ele ter ido embora! hehe tá ficando bem legal mesmo!

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