sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
Olhos castanhos
O fraco e velho ventilador girava lentamente, preso ao teto por fios gastos e expostos. Pelo teto, uma rachadura descia até a parede, onde descansava um quadro simples de um barco, feito em nanquin. Na parede do outro lado, uma janela pequena mostrava a cansativa vista da bela paisagem urbana. Uma selva de prédios enfeitada pela brilhante cacofonia de buzinas e carros passando. Uma mesa. De madeira e carcomida, com uma única gaveta vazia. Sobre ela, uma televisão empoeirada. Por todo o chão, livros e folhas espalhados até onde a vista alcançava. Ao lado, um criado-mudo, usado unicamente para apoiar o cinzeiro recheado de pontas de cigarro. O barulho continuava a ecoar em meus ouvidos, tão claro quanto antes. Repetido, e ritmado. Tum-tum... Tum-tum... Tum-tum... O calor emitido pela origem do barulho acolhe e esquenta. Levanto a cabeça, e duas representações da perfeição no formato de círculos castanhos vão ao encontro dos meus olhos, me encarando com o olhar que admira, mas ao mesmo tempo observa. É o olhar que atravessa a pele e observa a alma. Minha atenção se volta para os lábios expressivos, sendo mordidos compulsivamente pelos dentes brancos. Não tardará à amanhecer. Mas eu quero de novo.
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CA-RA-LHO.
ResponderExcluirmuuuuuito bom
ResponderExcluirchorei
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